sábado, 12 de agosto de 2017

CLAVICULÁRIO


Um senhor idoso foi atropelado na Avenida Afonso Pena, no meio da tarde de domingo. Ninguém o conhecia, ele não trazia nenhum documento no bolso. Apenas um molho de chaves. Muitas chaves. Alguém que poderia abrir tantas portas pelo menos era uma pessoa de responsabilidades. Um claviculário, única certeza.

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quarta-feira, 9 de agosto de 2017


ARROZ DOCE – Comer era uma subversão naquele momento. O clima desagradável, a discussão que trazia à tona todas as mazelas daquele relacionamento, e todas as alegras também. Qualquer fala, qualquer gesto teria, àquela hora, um significado maior que sua realidade. Mas não deixava de pensar naquele prato de arroz doce na geladeira, sobra da refeição de ontem. Não resistiu. Abriu a geladeira.
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segunda-feira, 7 de agosto de 2017

CATADIÓPTRICO


Apontei minha luneta catadióptrica para um ponto no infinito. Além de Vênus, planeta visto em fase crescente no céu, surpreendentemente , vi meu picuá de cacos vagando pelo planeta. Quem o teria colocado em órbita? Provavelmente alguém que não gostaria de ver meus fragmentos de novo. Um amigo?

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PICUÁ


Juntei os cacos de minha existência, aqueles largados ao léu pelos caminhos por onde andei e que havia negligenciado em algum lugar de passagem. E quando pisava descalço sobre eles alguma velha ferida se abria e se contorcia. Catei-os todos, eu creio. Coloquei-os todos no mesmo picuá e guardei no fundo do armário. Estou dando adeus aos fragmentos. Dançarei flamenco.

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FLAMENCO


Ele a via todos os dias indo para o trabalho, gostava de seu semblante alegre, mostrando ser uma pessoa de bem com a vida. E o que ela fazia o resto do dia. Trabalharia? Moraria com os pais? Teria namorado? Estudaria em uma universidade? Aquele interesse em saber mais sobre ela cresceu e começou a segui-la. Descobriu facilmente a razão de sua alegria. Ela dança flamenco.

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sábado, 5 de agosto de 2017

METÁFORA E MÚSICA


Mário passa o dia a cantar metáforas improváveis, o que faz da música que canta uma saudação à emoção, ao humor, à fé na vida. Esta é uma função das metáforas: saudar o impossível e torná-lo viável.
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sexta-feira, 4 de agosto de 2017

SOLUÇÃO e PROBLEMA


A partir de hoje resolvi sortear duas palavras aleatórias usando meu método de escolha a dedo em um livro qualquer e escrever um microconto relacionando as duas. Incrível o acontecido. Abri o livro em duas páginas diferentes e vieram as duas palavras acima. Então vou parodiar o Dario Peito de Aço, ou Dadá Maravilha: não me venha com problema que eu já tenho a solução.

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quinta-feira, 3 de agosto de 2017

GUERRA


Mário era um cara de paz. Só conseguia entrar em guerra contra seus próprios botões. E não havia comissão de costureiras que o demovia de arrancá-los de suas camisas. Tomou, então, uma decisão sábia. Passou a usar camisas de malhas, sem botões. E as gravatas?
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quarta-feira, 2 de agosto de 2017

PRESENTE


Mário sonha todos os dias em se dar um belo presente: uma viagem de barco pelo Rio Negro, de Manaus a São Gabriel da Cachoeira. Mais de oitocentos quilômetros, três dias dormindo em redes. E não acontece porque o presente de Mário oscila entre passado e futuro. Um já foi, outro não chega.
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terça-feira, 1 de agosto de 2017

CIDADANIA


A palavra foi escolhida a dedo. Literalmente. Abri o livro que estou a ler em uma página qualquer, fechei os olhos e pus o dedo em um local qualquer no meio da página. Procurei pelo substantivo mais próximo do local onde o dedo pousou: deu cidadania. Essa então é a palavra do dia. Assim será.
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CARTA PARA EU CRIANÇA

  Não me lembro do dia em que esta foto foi tomada. Minha irmã, essa aí dos olhos arregalados, era um bebê de alguns meses e eu devia ter me...