Na reunião do grupo IncentivArte de 03/11 percebi minha falha em um quesito colocado pelo edital do programa, justamente o de tornar público, nos âmbitos do mesmo, o processo de criação. Como sou da área de Literatura, resolvi escrever sobre o meu processo em geral, com ênfase na escrita do livro produto deste programa.
Serei, portanto um pouco mais amplo que contar a escrita do
livro em si, mas de como eu crio, desde que decidi me dedicar a este ofício. A
ideia aqui não é contar do passado, mas dos meus dias de hoje como escritor.
Serei suscinto, no entanto.
Eu não tenho uma rotina de escrita, do tipo faço sempre tudo
igual. Na verdade, faço sempre tudo diferente, meus dias nunca são iguais. Mas
eu tenho uma série de ações que são inerentes às atividades do escritor, que se
somam aos meus outros papéis sociais, que são: marido de uma companheira também
escritora, e também musicista, compositora, professora de violão, cantora de
coral, membro de uma bada de choro e outra de cordas e mãe de uma dentista
cantora; pai de alguns filhos e filhas; avô de alguns netos e netas, irmão de
muitos; filho de uma mulher quase centenária. Faltou a tutoria de três cães e
quatro gatos. Impossível definir horas de fazer as coisas.
Mesmo assim, há coisas que faço todos os dias, mesmo em
horários variados, pois são necessárias e inerentes ao processo criativo:
atividade física (uma caminhada mais uma série de ginásticas), é necessária
para colocar o corpo em movimento e me sentir em forma; respiração controlada e
meditação, para manter o equilíbrio emocional e a saúde em pauta; um banho frio
(ou melhor, dois ou três por dia) sempre ajuda a me manter animado; muita leitura,
pelo menos umas cinquenta páginas por dia; audição de música variada, para meu
deleite e também para coparticipar do processo criativo de minha companheira;
alimentação bem balanceada, pois preciso de mais proteínas e menos
carboidratos: e, claro, escrever todos os dias quantas páginas eu der conta.
Como a minha proposta é a escrita de crônicas contando as
histórias de pessoas, preciso de tempo para muita conversa. Isso eu adoro
fazer, conversar. E ler autores especialistas em crônicas. Tenho, portanto, me
dedicado especialmente à leitura de alguns especialistas no ramo: Fernando
Sabino, Luís Eduardo de Carvalho, Leandro Bertoldo, Humberto Gessinger, Lya
Luft, Oswaldo França Júnior, Evaldo Balbino, entre tantos outros. Mas quem mais
influencia minha escrita, hoje, é uma contista excepcional, totalmente
desconhecida, porque seu primeiro livro será publicado agora, quando ela chega
aos noventa e três anos, e tenho a sorte de ser seu primeiro leitor, o cara que
revisa seus textos. Seu nome: Maria de Lourdes Guanabarino de Souza e Mello, ou
simplesmente Maria Simello. Vocês terão notícias dela.
Não posso deixar de registrar quem são os autores que mais
influenciaram minha escrita ao longo da vida. Eles moldaram minha forma de
escrever e devo a eles o fato de acreditar que posso vir a ser como eles. Vir a
ser porque me considero um escritor em formação. Sempre escrevi, mas só levei a
sério a escrita como um ato de fazer, após meus sessenta anos.
Estou certo que não darei todos os nomes, por esquecimento e
também porque muitos foram importantes em determinadas fases em minha vida.
Cito alguns, brasileiros e brasileiras. Posteriormente citarei alguns
estrangeiros. Ana Cristina César, Mário Faustino, Tiago de Melo, Machado de
Assis, Oswald de Andrade, Rachel de Queirós, Jorge Amado, Ruben Braga, Carlos
Drumond de Andrade, Fernando Sabino, Afonso D’Ávila, Murilo Rubião, etc.
Antes de terminar não poderia deixar de citar a escrita de
microcontos, como um ritual cotidiano. Faço parte de um grupo de Facebook que
escreve microcontos todos os dias. A organizadora do grupo publica, todos os
dias, uma palavra. Devemos escrever, então, um microconto de até trezentos
caracteres, em que a palavra publicada apareça.
Como a palavra pode não me trazer inspiração de imediato,
uso de uma estratégia para cumprir o estabelecido. Entro no site dicio.com.br e
encontro outra palavra aleatória que lá aparece como palavra do dia. A vantagem
do site é que ele já traz o significado da palavra. Assim, escrevo um
microconto em que as duas palavras aparecem. E já tenho três livros de
microcontos prontos para serem publicados.
Caras e caros, é assim que passo a maior parte dos meus
dias, só para cumprir o papel, escolhido por mim, de escritor.
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