domingo, 4 de abril de 2021

DIVERSÃO EM TEMPOS DE PANDEMIA?

Em tempos de pandemia, a gente se diverte com coisas miúdas, inventadas. Já que fico vinte e quatro horas dentro dos muros da residência, o jeito é inventar. Inventando a gente se reinventa. Sim, eu me diverti hoje. Por quê? Essa pergunta é meio besta, é preciso um por quê para se divertir? Eu me divirto porque estou vivo. É uma boa razão.

A esta altura da trajetória, eu já não diferencio o trabalho da diversão, do prazer. Meu trabalho é simples: leio, escrevo, converso com pessoas (à distância, lógico). E tem o trabalho doméstico de sobrevivência: limpar, lavar, reorganizar a casa e cozinhar, basicamente.

Procuro me divertir com tudo isso. Ler e escrever coisas divertidas, conversar com pessoas divertidas. Cozinhar e comer o que cozinhamos é um desbunde. Limpar a casa ouvindo música e dançando com a vassoura não tem preço. Cuidar do jardim e ver a azaleia que plantou no vaso meses atrás não tem igual. Ouvir a companheira tocar seu violão e cantar é um prazer imensurável. Além disso fazer duas horas de ginástica por dia (sim, agora eu tenho tempo) e ver meu corpo maduro se enrijecendo também e a barriga diminuindo de volume, também não tem pra ninguém.

Mas o sofrimento vem com as notícias que chegam de fora dos muros. Milhares de mortes por covid, hospitais lotados, profissionais de saúde à beira da insanidade, amigos e conhecidos doentes e alguns queridos morrendo, cemitérios sem condições de enterrar a todos, filas de pessoas nos cartórios para registrar os óbitos de familiares, governo genocida se lixando para isso e presidente gastando milhões em férias enquanto o país se deteriora.

Toda a diversão parece perder o sentido. Mas eu preciso estar lúcido. Algumas pessoas precisarão estar lúcidas e em condições de refazer a história depois dessa merda toda. Que, eu espero, vai passar. E o mundo vai precisar de bons contadores de história, bons inventores para reinventar o mundo.

CARTA PARA EU CRIANÇA

  Não me lembro do dia em que esta foto foi tomada. Minha irmã, essa aí dos olhos arregalados, era um bebê de alguns meses e eu devia ter me...