domingo, 17 de maio de 2015

CORRER E PEDALAR


17/05/2015

Hoje é domingo e acordei às seis horas e trinta minutos. Levantei-me e tomei um café da manhã leve (tapioca com queijo frescal Minas e geleia de acerola, café preto sem açúcar, suco de manga). Depois fui para a rua. Correr. Às sete e meia estava na minha pista pessoal de corrida: de casa até a Lagoa da Pampulha, um bom trecho na pista da Lagoa, do Parque Ecológico até a Igreja de São Francisco de Assis e, então, o desafio final, a hora da verdade, subir a Avenida Fleming e voltar para casa. Esse último trecho tem um quilômetro e meio de subida, depois quatrocentos metros de descida e cem metros planos para o Sprint final. Total, oito quilômetros. Minha rotina de atividade física inclui uma hora de musculação e alongamentos de segunda a sexta-feira, seguido de uma hora de corrida ou pedalada, descanso no sábado e oito quilômetros de corrida ou cinquenta de pedaladas aos domingos de manhã.

De casa até o Parque Ecológico da Pampulha são dois quilômetros e meio e, nesse domingo frio e com uma garoa fina eu quase não encontro ninguém, só uns abnegados como eu, tarados por corrida. Chegando na pista da Lagoa encontro um grupo maior de pessoas, não muitas, porque ainda é muito cedo. Porque tão cedo? Porque às nove horas, se o sol aparecer, a pista estará lotada de caminhantes gordinhos e a ciclovia plena de ciclistas descuidados. Para quem corre ou pedala por necessidade, é um martírio. Melhor vir bem cedo?

Mas o que nos move? O que nos tira da cama em um domingo seis e trinta da manhã, a quinze graus Celcius a temperatura de hoje, para correr? Que estranho prazer é esse? Estranho para quem? Pois para mim é, de fato, um prazer. A corrida faz parte daqueles momentos em que você está plenamente na companhia de si próprio. A boa corrida é um ato de entrega a si mesmo. Para isso precisa estar “presente no ato”, ou seja, concentrado. É preciso perceber o passo, perceber as reações do organismo como, por exemplo, a tendinite crônica no calcanhar, o amortecimento dos joelhos, a pressão nos ombros e no pescoço. É preciso perceber também a frequência cardíaca (não uso frequencímetros), o canto dos pássaros (tem muitos bem-te-vis), dos patos, marrecos e garças na lagoa, dos quero-queros e capivaras no gramado, o perfume das mulheres já que quase todas correm perfumadas, e as pessoas corredoras, pedalantes e patinadoras. E como se faz isso? Com irrestrito controle de sua respiração. Ela é quem manda nesta hora.

Engana-se quem pensa que a atividade física, por si só, vai emagrecer e manter a forma. Ela é absolutamente necessária para manter a saúde física e, principalmente, a saúde mental mas, para emagrecer, outras atividades e atitudes são de suma importância. Comer pouco e sempre, nos recomendados intervalos de três em três horas, ter uma alimentação saudável (consulte um nutricionista). E ainda não é tudo. Pois, para fazer tudo isso, um ingrediente muito importante é seu controle mental e emocional. O controle mental ajuda a combater a temida (ou destemida?) ansiedade, e ajuda a ter “presença em ato” durante a atividade física e durante as refeições. E controle mental se consegue, por exemplo, com respiração. Controlando a respiração (existem várias técnicas para isso) se consegue fazer todas as atividades com a “presença em ato” a que me referi acima.


Aprendi tudo isso já com certa idade, muito embora a atividade física foi sempre minha companheira nos quarenta anos de prática de futebol. Como nunca é tarde para aprender, escrevo e conto aos outros para que, se quiserem, possam aprender e praticar também. Nada como uma boa corrida para começar bem o domingo, ou encerrar o dia depois de horas de trabalho. 

domingo, 10 de maio de 2015

DIA DAS MÃES


10/05/2015

Hoje é dia das mães, segundo domingo do mês de maio. Acordei com câimbras. Meu primeiro pensamento não foi para minha mãe, foi para a minha panturrilha, ela doía forte. Como acordar com câimbra? Deveria acordar relaxado! Minha companheira acorda muito cedo, fica remexendo na cama até decidir se levantar. Eu fico mais um pouco, dou mais um cochilo, levanto-me uma hora depois. Com câimbras, hoje. Nada a ver com o dia da mãe, com quem almoçarei daqui a pouco. Eu, manos e manas. Uma delas fará uma feijoada.

A panturrilha ainda dói. A semana passei curtindo gripe, em repouso. A falta de atividade física da semana foi a responsável pela tensão muscular. Meu primeiro pensamento ao acordar foi de me vestir adequadamente e ir correr. Não pude. Já que não foi possível correr, vim escrever. Contar para o mundo (não sei qual o tamanho de meu mundo, sempre penso nele de forma ilimitada) que eu escrevo em vez de correr. Substituí atividade física por atividade mental. Ginástica para o cérebro no lugar de ginástica para o corpo. Preciso das duas, na verdade. O corpo se acostuma a correr, o cérebro se acostuma a ler e escrever.

Quanto à minha mãe, ela me espera, sempre. Ela sempre quer que eu passe em sua casa para ouvi-la. Eu sou o filho que a escuta sem julgar, sem lhe dizer para fazer assim ou assado. Não apenas eu, claro. Ela, no entanto, reclama, alguns não a escutam, outros a escutam mas a repreendem por algumas coisas que ela faz, julgam-na velha. E ela não é velha, apenas excessivamente idosa. Como se ela, aos oitenta e oito anos, fosse dar atenção às repreensões que ouve.

Ela tem incríveis histórias, e perde a memória pouco a pouco, daí sua necessidade de contar e recontar aquilo que lembra. Faz parte das tradições tribais perpetuar suas tradições pela fala. Nós ouvimos e rimos e ela fica feliz com nossas risadas. Rimos por dois motivos: primeiro, ela as conta com sua graça particular e sempre rimos de novo; segundo, já as ouvimos mais de uma centena de vezes. As histórias, geralmente, são as mesmas, contadas com precisão de vírgulas e dois pontos. De vez em quando ela nos agracia com uma história nova. Nova, quer dizer, já a ouvimos apenas uma dezena de vezes e há muito não a contava. Cabe-nos ouvir, e recontar à nossa maneira. Cabe-nos reverenciar seu legado, alimentar a plantinha que ela nos deixa e nos alimentarmos dela.

Valeu mãe. Nota dez para você.



CARTA PARA EU CRIANÇA

  Não me lembro do dia em que esta foto foi tomada. Minha irmã, essa aí dos olhos arregalados, era um bebê de alguns meses e eu devia ter me...