sexta-feira, 29 de novembro de 2013

CAMBAXIRRA, MEU PÁSSARO


Meu pássaro de todos os “abrir de olhos” é uma cambaxirra. Nome que alguns consideram feio, mais feio ainda, e sem propósito, é garrincha, outro nome pelo qual as cambaxirras são conhecidas (seu terceiro nome, corruíra, é um pouco mais bonito). É um pássaro carente também de belezas e plumagens. No entanto, camarada meu, ele canta como nenhum outro pássaro, e canta sempre.
Dizem que, na origem dos mundos, as cambaxirras voavam em grupos de pássaros mais bonitos e melodiosos e imitava seus cantos. E, com eles, sugava o néctar das flores das plantas até que um dia esse grupo de pássaros parou para sugar o néctar das flores de uma pimenteira e a cambaxirra se interessou pelos frutos da pimenteira passando a comê-los. Foi assim que ela ficou com a boca vermelha e a garganta ardida, e seu canto, antes tão melodioso, ficou entrecortado de sussurros e aflição, como se estivesse a avisar os outros pássaros que tomassem cuidado com as pimenteiras. Dizem também que é por isso que as cambaxirras não voam mais com outros pássaros, ficando sempre próximo das varandas e dos muros das casas dos homens para se proteger. Não comem mais frutos e se alimentam de larvas e insetos.
Voltando à minha cambaxirra, ela me acorda todos os dias. Hoje levanto e vou para o quintal, fecho os olhos, agora acordado, só para ouvi-la. O canto da cambaxirra, tão fiel a meus amanheceres, é hoje o maior símbolo de todas as mudanças que me permiti fazer neste ano de dois mil e treze. O canto da cambaxirra é um privilégio de quem tem um quintal arborizado em plena urbis, de quem os alimenta mesmo que indiretamente através das sobras orgânicas. É privilégio também de um quintal sem gatos e outros predadores. Em meu quintal os pássaros são bem vindos, caminham lado a lado com os moradores do pedaço. E as cambaxirras dividem o espaço com sabiás, saíras, bem-te-vis, joões-de-barro, beija-flores, rolinhas, de vez em quando um pica-pau viajante, corujas vez ou outra. Tudo isso em quatrocentos metros quadrados, algumas árvores e muitas folhagens.

Pois o canto das cambaxirras é o som de minhas transformações, ele me guia cotidianamente em minhas meditações e nas dos outros que chegam em meu quintal seja para uma conversa, seja para o exercício do silêncio. Por isso os adotei, a cambaxirra e seu canto, como meus símbolos, ícones de meu novo ciclo de vida.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

DANÇA DOS GOLFINHOS ***


Eu estava em uma praia pequena e deserta. Não era uma praia deserta, ela estava deserta naquele momento. O céu azul sem nuvens e o sol claro indicavam uma bela manhã que provavelmente se aqueceria, mais, provavelmente ficaria bem quente horas depois. Era manhãzinha e a brisa fresca soprando permitia sentir agradavelmente aquele clima. Eu ouvia uma voz feminina quente e doce tão próxima de mim, parecia falar dentro de meu cérebro, ou faria parte de meus pensamentos e eu ainda desconhecia. Nem sei se havia uma voz de fato, ou se aquela voz pertencia a meu inconsciente naquele momento. Mas ela me dizia para caminhar na areia e sentir meus pés afundando. Posteriormente aquela voz me induziu a entrar no mar, e sentir a água do mar, morna, subindo pelas minhas pernas e molhando todo o meu corpo. Convidou-me para um mergulho. Como sabia que eu adoro mergulhar, que sou bicho da água, espécie de anfíbio moderno. Achei o convite interessante e fui cada vez mais fundo no mar.
Golfinhos apareceram. Pareciam dançar na minha frente. Pareciam me convidar para uma dança. Entrei naquela valsa oceânica e dancei com eles. A voz em meu inconsciente me dizia: dance, dance, deixe-se levar. E eu deixei-me levar. Os golfinhos pareciam conversar comigo, avoz agora era deles: o que queres? Que mensagem quer que levemos ao rei dos mares? Que mensagem queres receber do rei dos mares? E eu pedi que levassem meu pai com eles, que o levassem em paz, para dançar com eles. Sim, meu pai adora dançar e, agora, em sua cadeira de rodas, ele não dança mais. No fundo do mar, na dança dos golfinhos, ele dançaria, ele flutuaria no mar sem sua cadeira de rodas. Seria bonito ver meu pai dançar mais uma vez. E eu vi. Ele estava lá, dançando como antes.
Foi então que ouvi a voz me dizer: volte, você está no mar, no fundo do mar e precisa voltar à terra. Eu voltei. Saí da água e chorei de alívio, de alegria por ver meu pai dançar sorrindo com os golfinhos. Eu o deixei lá, feliz. A voz se calou. E voltei para terra. Sem meu pai.


CAMINHADA NO ESCURO


Meus olhos estavam vendados com uma tarja negra. Fui conduzido a colocar as mãos nos ombros de uma pessoa, confiar nela e segui-la. Coloquei as mãos em ombros macios indicadores de uma mulher alta e volumosa, mas nem tanto. De início, a sensação de caminhar no escuro seguindo alguém, como um cego, foi muito estranha. Depois me acostumei. Principalmente porque haviam pessoas nos guiando nos degraus e nos obstáculos. A pessoa em minha frente se portou como uma parceira. Ela também tinha seus olhos vendados e segurava os ombros de outra pessoa à sua frente. E aparava uma de minhas mãos para que eu não me desconectasse dela. Em meus ombros pousavam duas mãos de alguém que apenas identifiquei como sendo do sexo masculino pelo seu hálito, porque suas mãos eram delicadas sem ser femininas. Depois de uma volta pelo jardim (senti a grama nos pés) fomos introduzidos em uma sala onde tocava uma música suave e uma voz nos comandava para caminhar pela sala até encontrar uma outra pessoa, tocá-la, abraçá-la e falar em seu ouvido: o que procura e quais são seus medos? A pessoa que eu encontrei era uma mulher, cheinha de corpo, gostosa de abraçar, voz alegre e dissemos um para o outro que não tínhamos medo.


Em seguida nos desconectamos, procuramos uma segunda pessoa e repetimos o processo. Agora era uma mulher pequena e magra, também gostosa de abraçar. Depois uma terceira pessoa, desta vez um homem forte. E já quebrei um paradigma na primeira noite. Abraçar um homem desconhecido com carinho de velho amigo, mas ele se mostrava tão disponível que venci meu machismo na hora! Uma mulher também vendada se aproximou de nós e nos abraçou. Ficamos os três ali, em silêncio e abraçados até que fomos orientados a tirar nossas vendas e nos conhecermos. Algo muito estranho aconteceu. Aquele abraço de olhos vendados nos aproximou a todos. Quem seriam as duas primeiras pessoas? Isso nos torna cúmplices de todos imediatamente. Corri os olhos pela sala, após retirarmos as vendas e não identifiquei as duas mulheres que me abraçaram. Só tempos depois, com outros abraços (abraços tornaram-se linguagens), consegui identificar as lindas mulheres, agora amigas. 

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

MÃOS GRANDES


Sempre que olho para minhas mãos e dedos grandes me interrogo se não desperdicei minha vida. Não seriam elas talhadas para fazer coisas interessantes? Como jogar tênis, por exemplo, embora jogar tênis dependa mais dos pés que das mãos. Penso então que poderia ser marceneiro, escultor, entalhador, massagista, estivador, pianista, percursionista, malabarista, açougueiro, padeiro e muitas outras profissões possíveis onde mãos grandes teriam boa serventia. Fui ser professor. Essas mãos e dedos grandes empunhando um ridículo giz (hoje se usa pincel), ou teclando os laptops e tablets e errando as teclas cada vez menores não combinam.

Aí lembro-me de duas coisas. Não existe uma relação determinada entre forma e função, mãos grandes ou pequenas podem fazer qualquer coisa. Basta achar o jeito. E que o principal articulador da relação forma-função é o cérebro e ele não se importa com tamanhos de mãos ou de pés. Grande ou pequeno é o talento adquirido. Aí não me sinto nem disforme nem disfuncional. Sou um bom professor de mãos e dedos grandes.


PASSADO E SEUS ECOS


“Não perca tempo correndo atrás daquilo que perdeu no passado. Enquanto isso você pode perdendo coisas importantes no presente”. Essa frase é dita em um filme dirigido pelos ótimos irmãos Cohen. E faz pensar. Ela tem múltiplas interpretações como todas as frases filosóficas, como todos os aforismos, desde Sêneca. Cada um faz uma leitura. Dependendo de sua posição e daquilo que pleiteia.  Que interpretação dar quando aquilo que procura está no presente, influenciará seu futuro, e tem raízes no passado? Ou tudo não é assim? Todo o presente tem raízes no passado. E o passado pode não ser muito bonito. Mas passou. Não volta. Apenas seus ecos ficam.

Em se tratando de presente, todos os fatos, que são fatos, portanto inegáveis, tem sempre mais de uma interpretação possível, e todas as interpretações tem suas lógicas. As moedas tem duas faces, a lua tem um lado visível e outro sempre escondido, cada um que vê uma cena a conta de seu jeito, cada um que vive uma história tem seu olhar diferente para a mesma.

Duro é reviver o mesmo problema anos depois e perceber que a moral das pessoas envolvidas não mudou: vítimas ontem, vítimas hoje. Fui recuperar algo que deixei no passado por bobeira, imaturidade e sentimento de culpa, esbarrei nas mesmas pessoas com as mesmas interpretações lineares e, mais uma vez, perdi pessoas queridas e amadas. Duro recuperar? Conto apenas com a possível capacidade delas de olharem através das fendas da história, de perceberem as nuances dos fatos e saírem de suas linhas retas, sem fazer julgamentos.


Mas como é difícil para as pessoas não fazerem julgamentos! Como é difícil não condenar o sujeito simplesmente porque não concordam com seus atos! Não julgamento é uma bela atitude que aprendi a duras penas. Minha função de hoje o exige para que seja bem sucedida. Quanto a recuperar as pessoas queridas, não estou otimista. Elas já fizeram seus julgamentos.

domingo, 10 de novembro de 2013

DISTÂNCIAS E PROXIMIDADES ***


Distâncias são sempre relativas. E sempre que nos afastamos há algo que nos aproxima do ponto de origem, mesmo que distante. Minas Gerais nunca esteve tão próximo de mim que quando morei no exterior. Dizem os mineiros que levamos a terra junto em nossas viagens. Uma terra que gruda no fundo dos bolsos.

Levamos os sabores, por exemplo. Do pão de queijo e da broa de fubá, sem dúvida. Também a música. Levamos o Clube da Esquina inteiro na mochila. Levamos a viola caipira e a moda de viola dos mucuris e jequitinhonhas das gerais. Levamos os congados e os candombes. Mineiro é assim, talvez sejamos todos assim. Viajamos e levamos nos bolsos nossa ancestralidade, nossa cultura. É quando o longe fica perto. E vamos agregando outros valores. Uma coisa que fazemos bem também é degustar a cultura alheia e nos apropriarmos dela. É a nossa antropofagicidade, elemento presente na cultura brasileira.

Certa vez um jovem franco-libanês habitante de Marseille, no sul da França, veio ao Brasil encontrar e conhecer seus primos brasileiros-libaneses. Assustou-o o fato de que seus primos não falavam árabe. Eram mais brasileiros que libaneses. Nossa antropofágica cultura se alimenta das outras culturas. Nesse movimento inverso a distância os afastou em vez de aproximar.


Distâncias e proximidades são relativas.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

ESCOLHAS


Ok, temos sempre que fazer escolhas. No entanto, criar é muito mais que fazer as escolhas certas. Criar é fruto de um processo que nos individualiza no mundo. Criar é o contraponto a um outro processo, que também envolve escolhas, o de pertencimento ao mundo. Pertencimento a um lugar, pertencimento a um grupo ou clã, pertencimento a um modo de vida, pertencimento a uma ideologia. Pertencimento e individualização carregam aquela tensão polarizada que nos define como parte de alguma coisa, mas uma parte muito particular daquela coisa. 

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

DESENTENDIMENTOS


Desentendimentos com familiares sempre são desagradáveis e pesam muito, principalmente quando você já tem mais de sessenta e acha que o tempo de recuperação é sempre menor que antes. Pior ainda quando você acha que tem suas razões e não adianta fazer muita coisa porque qualquer coisa que fizer estará errado, por princípio. Principalmente quando a outra parte faz julgamentos passionais de processos que podem ser nominados de normais e simples. E a pressão sobe. A minha arterial hoje pulou para cento e setenta por cento e um. Minha pressão sempre foi baixa, cento e dez por setenta, máximo de cento e vinte por oitenta. O estresse dos últimos tempos a fez subir gradativamente chegando a esse ápice hoje. Mudei de patamar estatístico. Cardiologista à vista, consulta para segunda próxima.
Hora, então, de me recolher ao silêncio, de esperar que outras luzes me iluminem, pois as atuais encontram-se um pouco ofuscadas. Hora de me preparar para pequenas e grandes perdas, quando eu achava que ser avô compensaria todos as demais perdas da vida, tipo um que se vai, outro que ocupa seu lugar. Mas não é assim. A vida não é tão direta, as respostas nunca estão na ponta da língua, as frustrações contidas nos fazem explodir. E a pressão sobe.
O ativista ambientalista John Francis ficou dezessete anos em silêncio, sem pronunciar uma palavra com ninguém. O dia em que resolveu voltar a falar assustou-se com a própria voz. Não falou nem mesmo com seus familiares e disse que aprendeu muito. Aprendeu o verdadeiro sentido da comunicação, por exemplo. Eu não conseguiria ficar sem falar, acho a fala fundamental, mas bem que eu gostaria de falar menos. E passo, de agora em diante, a me empenhar para isso. Que o silêncio me regenere de alguma coisa. Psiu.


terça-feira, 5 de novembro de 2013

CINCO MINUTOS


Cinco minutos no jardim, em completo silêncio, sem pensar em absolutamente nada, respirando fundo. De uns tempos para cá, começo meus dias assim. Apenas escuto. Pios de pássaros, passos de lagartos, canto de cigarras, ruídos de ventos, barulho de carros nas ruas. Nenhum vizinho ligou o rádio ou colocou para tocar aquele CD novinho de música sertaneja, ou funck, ou axé, ou pagode. Maravilha! Agora estou pronto. Primeiro, relato esse fato acontecido, depois vou ver quem ousou me enviar um e-mail durante a noite. Ninguém. Maravilha de novo!

As portas do dia se abrem para que eu deixe entrar o que eu queira, ou quem eu queira que entre. Embora a agenda só cresça, o dia tem apenas dezoito horas (seis horas de sono não contam). Considerando os tempos de pausa, umas três a quatro horas distribuídas nestas dezoito, sobram-me quatorze a quinze horas para as atividades propostas e outras que por ventura surjam fora da agenda e que seja imprescindível que eu as execute. Então, mãos à obra, uma hora de pausa já se foi.

Em tempo, escrever uma crônica estava na agenda.


SURDOS DE TANTO FALAR


Pode ser engraçado, mas parece que pessoas que falam demais ficam surdas. De tanto escutarem a própria voz deixam de ouvir os ruídos da vizinhança, os barulhos da rua, os sons do jardim. Deixam de ouvir a torneira pingando e as vozes de outras pessoas. Tenho parentes assim. Acreditam que não escutam mais, visitam otorrinos que lhes vendem aparelhos de audição bem caros e eles continuam não ouvindo. Reclamam do aparelho, trocam por outro teoricamente mais performante (e mais caro) e continuam não ouvindo. Finalmente admitem que são surdos e desistem de ouvir.
Fiz um teste com um desses parentes dias atrás. Ele estava aflito, cheio de angústias. Eu o sentei no banco do jardim, exigi que se calasse por cinco minutos e que respirasse fundo e devagar. À medida que ele foi respirando pedi que fechasse os olhos e escutasse os sons do jardim. Um sabiá e uma cambaxirra cantavam nos arvoredos não muito longe. Perguntei se ele escutava o som dos dois pássaros, ele disse que sim. Pedi que me apontasse com o dedo a direção de onde vinha os cantos dos dois e ele apontou corretamente. Ele abriu os olhos e confirmou visualmente a presença dos dois pássaros e perguntou o que eu tinha feito para ele escutar de novo pois estava sem o aparelho auditivo. Quando eu respondi que ele não era surdo, apenas não parava de falar e não prestava atenção no entorno, ele se surpreendeu.

Tudo que precisamos para nos encontrarmos no mundo é escutar a nós mesmos e escutar nosso entorno. Saber onde estamos e para onde vamos. Escutar é o mais importante sentido para aprendermos e comunicarmos com o mundo. A boa comunicação depende de uma boa escuta mútua. 

sábado, 2 de novembro de 2013

CENTROAVANTES E CRAQUES



O futebol está tão medíocre que é difícil encontrar um novo craque nesse lamaçal de cabeças de bagre. Os times continuam fazendo gols, claro. Os jogadores tem preparo físico, correm como loucos, dão cacetadas como se estivessem em guerra e o adversário quisessem lhes comer as tripas fritas no jantar. Um festival de horrores! 

Onde está aquela cadência, aquela malemolência do belo da arte? A ginga, o drible, e o mais importante, a percepção do lance antes que ele aconteça? Onde está aquele centroavante que se antecipa ao lançamento e a bola chega mansamente a seus pés e a ele basta empurrá-la com sutileza e doçura para o gol? 

Citarei aqueles que vi jogar e, claro, deixarei fora de minha lista alguns. Não vou falar de Pelé e Tostão, dois fora de série que não eram centroavantes, eram pontas de lança (para usar uma denominação de meus tempos de garoto). Hoje os denominamos meias-armadores. Mas centroavantes como Vavá, que fez muitos gols pelos clubes e pela seleção brasileira, foram poucos. Outro era Claudio Adão, que sabia se colocar na área como ninguém. Dario Maravilha não tinha doçura, mas muita sutileza. Reinaldo foi o maior deles. Se tivesse físico teria assombrado o mundo. Seus joelhos não aguentaram. Hoje teria feito muita musculação e talvez aguentasse mais um pouco. Depois dele apenas Romário, o último dos mohicanos, e mais ninguém. Careca quase chegou lá, Ronaldo Fenômeno aliava inteligência e força e também chegou perto. Faltou-lhe a doçura de Romário. Recentemente vi lampejos de vivacidade em Fred, já maduro. No entanto, bobagens dele camuflam seus bons momentos. Estamos, pois, à espera desse centroavante. Alguém diferente e que faça toda a diferença. 

FAZER DIFERENTE


Eu quero apenas fazer diferente. Nunca fui especialista em seguir regras, de fato. Quando eu escuto os discursos de pessoas que se dizem especialistas em sucesso, penso logo que se tratam de pessoas sem talento que seguem as regras e ganham muito dinheiro para isso. Porque basta seguir as regras para se ganhar dinheiro. Não é o dinheiro que me interessa. Nem as regras. O que me interessa é fazer diferente. Se eu tiver que ser reconhecido por alguma coisa algum dia, gostaria que fosse por fazer diferente.

Talvez eu tenha seguido regras demais e tenha ficado no meio do caminho. Talvez eu não tenha sido ou feito diferente nos momentos em que deveria sê-lo ou fazê-lo. Talvez tenha me faltado aquele bom nariz para sentir o momento exato para ser ou fazer diferente. E tenha sido apenas meio diferente, não o suficiente para ser marcado como o diferente. Bom, o tempo passou, embora eu não pense que tenha perdido tempo, tempo não se perde, apenas passou. Agora eu tenho todas as possibilidades do mundo para ser ou fazer diferente. Minha hora está chegando?


Levo a sério uma frase de um filósofo francês, Serge Feaucheraud, que, quando vê uma obra de arte, pensa: eu poderia ter feito isso, só que eu faria diferente. Eu diria, parafraseando Feaucheraud: tenho talento para fazer qualquer coisa, mas faria diferente, tão diferente que ninguém acreditaria. Hora de mostrar minhas diferenças. Sou e faço diferente.

CARTA PARA EU CRIANÇA

  Não me lembro do dia em que esta foto foi tomada. Minha irmã, essa aí dos olhos arregalados, era um bebê de alguns meses e eu devia ter me...