quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

A LUA GIROU

A lua girou no céu, foi o Saci Pererê que contou, para alvoroço dos bichos. Eles não acreditaram que a lua pudesse girar. Se ela gira poderia também cair sobre a Terra e isso talvez fosse o fim do mundo. Ninguém quer o fim do mundo.

A grande preocupação, hoje, é o fim da própria floresta. E sem a floresta, aí sim, o mundo acaba. A Terra morre. Nem mesmo o Saci pensa tal coisa.

O que fazer, caros animais e caros vegetais, para a floresta sobreviver? Será que os humanos poderiam ajudar? Ou seria querer demais esperar pela ajuda dos irresponsáveis humanos?

terça-feira, 14 de dezembro de 2021

OS VELHOS

Os velhos estão indo embora. Meu pai já foi. De seus nove irmãos restam três. Seus primos estão pela metade. Talvez isso seja amadurecer: perceber que os parentes e amigos da geração de seus pais estão partindo um a um. E que os de minha geração se encontram mais em velórios que em festas.

Um deles, no entanto, parece estar ficando para semente. Semente de gente. Já foi flor, deu frutos, agora se curva ao peso da idade, mas permanece. Mais de cem anos. Bem mais. Alguns afirmam que tenha chegado aos cento e vinte. Como ninguém de seu tempo ficou por aqui, não há confirmação de datas. E ele não tem mais documentos. Apenas alguns cuidam dele até mesmo por considerá-lo exótico. E ele fala tão baixo que ninguém lhe escuta.

Dias atrás, no entanto, o velho desapareceu de seu quarto. Ninguém o viu sair. Encontraram suas pegadas na estrada poeirenta da montanha. Ninguém foi atrás dele. Provavelmente subiu a montanha para morrer. O dia estava claro, céu azulado, um bom dia para morrer. Resolvi procurá-lo eu mesmo. Depois de dois dias de caminhada o encontrei no alto da serra conversando com pássaros e alguns animais. Todos pareciam felizes com sua presença.

 

CÍRCULO VICIOSO

Saí da cidade e peguei a estrada de novo. Já era quase noite, as últimas luzes vermelhas se escondiam por trás das montanhas e uma lua cheia surgia devagarinho. Ainda pensava nos últimos acontecimentos que me fizeram decidir por ir embora. Voltaria um dia?

Depois de uma curva do caminho vi uma criança acenando. Parei o carro. Ela me disse que um carro havia se desgovernado e pessoas estavam dentro dele. Desci a ribanceira correndo e vi uma mulher ao volante e uma criança dentro do carro, ambas feridas.

Minha única alternativa foi subir com as duas até o carro e conduzi-las até o hospital da cidade. E a criança na estrada, para onde foi? Elas sobreviveram. Eu que não sabia mais o que fazer. Não voltei para minha antiga casa, mas será que um dia iria embora?

quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

GARGALHADA

Cheguei à cidade às duas da tarde. Além do sol quente havia um silêncio de mães tristes quando filhos partem. Era um decreto do prefeito. Todos deveriam permanecer em silêncio por três dias. Quem palavra pronunciasse seria obrigado a se exilar e proibido de voltar à cidade.

O motivo? Sua mulher havia partido com o palhaço do circo. Claro que fui expulso em seguida. Minha visita durou um pouco mais que minha gargalhada.


SER FELIZ DEPOIS DOS SETENTA

  A pergunta que todos fazem, inclusive eu, é: “é possível ser feliz quando a idade já se representa por um número tão grande? Como? É bem p...