Essa frase é dita em um filme dirigido pelos ótimos irmãos Cohen. E faz pensar. Ela tem múltiplas interpretações como todas as frases filosóficas, como todos os aforismos, desde Sêneca. Cada um faz uma leitura. Dependendo de sua posição e daquilo que pleiteia. Que interpretação dar quando aquilo que procura está no presente, influenciará seu futuro, e tem raízes no passado? As coisas não são todas assim? Todo o presente tem raízes no passado. E o passado pode não ser muito bonito. Mas passou. Não volta. Apenas seus ecos ficam. Alguns ecos podem ser desagradáveis, mas não ocupam espaço.
Em se tratando de presente, todos os fatos, que são fatos,
portanto inegáveis, têm sempre mais de uma interpretação possível, e todas as
interpretações tem suas lógicas. As moedas tem duas faces, a lua tem um lado
visível e outro sempre escondido, cada um que vê uma cena a conta de seu jeito,
cada um que vive uma história tem seu olhar diferente para a mesma.
As histórias que conhecemos hoje foram escritas por alguém
que tinha uma razão, particular ou coletiva, para que se registrasse desse
jeito. O papel dos historiadores é, em parte, pesquisar o tamanho da verdade da
história como ela chegou até nós.
Um dos acontecimentos difíceis de se levar a sério é reviver
o mesmo problema anos depois e perceber que a moral das pessoas envolvidas não
mudou: vítimas ontem, vítimas hoje. Fui recuperar algo que deixei no passado
por bobeira, imaturidade e sentimento de culpa, esbarrei nas mesmas pessoas com
as mesmas interpretações lineares e, mais uma vez, perdi pessoas queridas e
amadas. Pensando como os irmãos Cohen, o que será que perdi, de importante
hoje, indo reviver algo do passado? Eles têm razão.
Para envelhecer com maturidade a gente precisa, ao longo da
vida, desapegar do passado, mudar de perspectiva, e se transformar em nova
pessoa.
Transformação é uma espécie de mote
para o futuro. Significa adeus ao ponto de partida. Sem retorno. (Paulo C. S.
Ventura).
Transformar-se é tornar-se outra pessoa, viver em outro
mundo, com outras possibilidades. Outras escolhas. Viver é isso: transformar-se
continuamente, já que o passado não volta.
Contamos apenas com a possível capacidade das pessoas de
olharem através das fendas da história, de perceberem as nuances dos fatos e
saírem de suas linhas retas, sem fazer julgamentos.
Mas, como é difícil para as pessoas não fazerem julgamentos!
Como é difícil não condenar o sujeito simplesmente porque não concordam com
seus atos! Não julgamento é uma bela atitude que aprendi a duras penas. Minha
função de hoje o exige para que seja bem sucedida. Quanto a recuperar as
pessoas queridas, não estou otimista. Elas já fizeram seus julgamentos. Não
creio que me aprovem, já que sou outro ser. Talvez meio pássaro.
Em noite de mudança de lua
viro bicho que na terra pousa
orbitando como mariposa
na pálida luz da rua.
Ou mariposa.