segunda-feira, 19 de maio de 2014

VÉSPERA DE PARTIDA A LONDRES


05/09/2013

Na manhã do dia cinco, quinta-feira, por volta de dez horas e depois do café da manhã, Bernard e eu fomos até a loja DECATHLON comprar a bolsa de carregar bicicletas desmontáveis (housse, em francês). Encontramos exatamente como vimos na internet e ao preço indicado (70 Euros). Aproveitei para comprar também um calção de pedalar, não daqueles coladinhos usados pelos ciclistas, bundudo que sou, acho que fica meio esquisito em mim, mas um calção mais largo embora com uma almofada para proteger cu e testículos (12 euros).

Quase tudo pronto, faltava desmontar a bicicleta e colocá-la dentro da embalagem. Começamos a fazê-lo quando Hélène nos chamou para o almoço: peixe apenas ligeiramente cozido, legumes também cozidos (tomate, vagem, cenoura, batatas, abobrinha), um molho caseiro ao alho, delicioso, e vinho rosé (um Terre des Oms, um collioure rosé 2011, de Banyuls-sur-Mer, France). Delicioso. Claro, com queijos diferentes, iogurte e uvas como sobremesa.

Deliciado o almoço, voltamos aos arranjos para guardar a bicicleta. Retiramos os pedais, as rodas, colocamos bicicleta e acessórios dentro do envelope, da housse. Depois fui pedalar com a bicicleta de Hélène em um parque próximo, em torno de um lago. Pequeno azar, depois de uns três quilômetros de pedalada o pneu furou, meia volta, volver, empurrando a bicicleta para voltar para casa. Aproveitei para correr um pouco e cheguei em casa suando. Hora, então, de arrumar a bagagem para ir para Londres.

À noite tivemos a visita de um casal amigo de nossos anfitriões, e que eu conheci em outras viagens que fiz até a casa deles: Philippe e Janine. Não os via havia tempos, são muito simpáticos e agradáveis. Horas de calma agora.

O jantar foi muito interessante. Philippe apertou forte a minha mão, grande consideração de apreço. As pessoas não se abraçam na França, salvo se são realmente muito amigos. O aperto de mão, o sorriso, e a frase “je suis très content de te revoir, Paulo”, foram suficientes para o momento e indicadores de apreço. Ele e Bernard são amigos de muitos anos, e o máximo de intimidade entre eles é esse forte aperto de mão, o olhar e o sorriso. Philippe chegou às 19h45min e Janine, sua esposa, às 20h10min. Ela estava em um ensaio de canto, pois no fim de semana seguinte ela cantaria em algum lugar. Não é cantora profissional, participa de um movimento associativo, comum na França, todos os cidadãos fazem parte de alguma associação para fazerem coisas coletivamente, um processo muito interessante e que deveria ser copiado, com devidas adaptações, por nós, brasileiros.

Quando Janine chegou já tínhamos bebido quase uma garrafa de champagne, da casa Huré Frères, trazido por Philippe. Champagne simplesmente deliciosa, de um produtor considerado pequeno, que não vende em supermercados, apenas em algumas casas especializadas na França, ou no local de produção. A champagne é uma bebida muito particular, tem esse nome por ser produzida e engarrafada na região de Champagne, com uvas locais e com denominação controlada. Isso significa que outros fabricantes de espumantes, de outras regiões do mundo, não podem chamar seus espumantes de champagne. Questões comerciais envolvidas no processo.

Os franceses sempre comem pratos frios e pratos quentes servidos separadamente, pratos frios como entrada. No jantar desse dia o prato frio foi composta de uma tigela de chips de legumes (ainda raro no Brasil), carnes, no caso pequenos bifes de boi e porco servidos frios, maionese caseira e mostarda de Dijon, uma menos picante que as habituais a meu paladar. O prato quente foi um assado de verduras e legumes muito bom. Eram tiras finas de tomate, abóbora daquela fina e comprida, cortada em rodelas, beterraba, pimentão, todos cortados em tiras e colocados na vertical na tigela e levados ao forno por vinte minutos. O prato se chama TIEN. O vinho tinto da noite foi o Fréderic Mabileau, vinho de Saint Nicolas de Bourgueil, pequena cidade do Vale de la Loire.

A conversa foi extremamente agradável, rimos muito, o assunto rolou solto e leve. O que temos em comum é a profissão de professor, a alegria de aprender sempre e de compartilhar conhecimentos e técnicas com os amigos queridos. Um dos assuntos foi a má distribuição de renda..., na França. Vejam só. E no Brasil? Nem distribuição de renda temos, nem boa, nem má.

Depois desse jantar especial, fomos dormir para levantar cedo e viajar.





sexta-feira, 2 de maio de 2014

EM PARIS, CHEZ RICHOUX


04/09/2013

Bernard e Hélène Richoux são duas pedras preciosas encontradas em um rio de águas cristalinas. Conhecemo-nos em 1996 quando morávamos na França para nossos doutorados, Hélène foi colega de classe de minha mulher, no DEA da Universidade de Paris VII. Os primeiros contatos já foram muito amigáveis, prenúncio de longa amizade. Desde então nossos contatos foram nos aproximando cada vez mais. Mesmo depois de nosso retorno ao Brasil, estamos nos visitando pelo menos uma vez por ano. Eles moram em Sainte Genéviève sur Bois, uma pequena cidade da região metropolitana parisiense, a meia hora de trem, RER C, de Paris. A casa deles é agradável, bem mantida pelos dois, sendo Bernard amador de marcenaria, de modo que tem sempre uma inovação cada vez que os visito.

Hoje, eles estão aposentados, curtindo a vida, os filhos e os netos vem vindo aos poucos (já são quatro). Ambos eram professores de Física em Liceus de cidades vizinhas à deles, Hélène chegou a fazer doutorado em Didática de Disciplinas, e fez pesquisas e publicou artigos. Bernard coordenou a redação de um livro didático de Física e Química para o Liceu, que corresponde ao nível Ensino Médio no Brasil. Na França, o ensino de Física e Química é em conjunto, com um só professor formado nas duas disciplinas. O currículo não é tão extenso como no Brasil, é perfeitamente viável o trabalho.

Voltando ao segundo objetivo de minha passagem pela França, o dia deveria ser também dedicado aos preparativos para minha viagem entre Londres e Paris de bicicleta, e o tempo não seria longo para isso. Eu precisava: alugar uma bicicleta em Paris; verificar como transportá-la via Eurostar; comprar bilhetes de trem entre Paris e Londres; comprar roupas adequadas para pedalar. Contava com a ajuda de Bernard para isso, pois ele me levaria aos lugares certos para as compras devidas. E ele fez muito mais que isso. Primeiro, ele me emprestou sua bicicleta, uma que na França chamam de VTT (vélo tout terrain). No Brasil a chamamos de bicicleta de cross, ou montain bike, nós que não temos o hábito de procurar uma boa palavra em nossa língua portuguesa e absorvemos palavras em inglês, bestas que somos. Uma vez aceito o empréstimo passamos a limpá-la, verificar se estava tudo em ordem, verificar as ferramentas e acessórios necessários e/ou úteis para o longo trajeto, etc.

Entramos no sítio web da Eurostar (http://www.eurostar.com/) para certificar-nos das possibilidades de transporte de bicicleta no trem. Vimos que podemos coloc´-ala dentro de uma bolsa apropriada para guardar bicicletas desmontadas e, assim, transportá-la pagando uma taxa de quinze euros. Nada mal. Passo seguinte: procurar na Internet onde encontrar a tal bolsa. Encontramos uma marca a setenta euros vendida em loja da rede Decatlon (http://www.decathlon.fr/). E uma loja dessas existe a menos de dez quilômetros da casa de Bernard. Em seguida compramos o bilhete de trem para ir a Londres. Cem euros a ida para mim e cento e sessenta euros ida e volta para minha mulher que iria comigo até Londres e depois voltou de trem para Paris. Cabe aqui uma nota: foi difícil convencer a agente de plantão na alfândega inglesa que eu tinha passagem só de ida a Londres, porque voltaria de bicicleta. Ela deve ter pensado que eu era maluco.

Tudo isso feito, passamos ao jantar chez Richoux, preparado por Hélène, uma torta de tomate deliciosa, com melões e presunto Parma como entrada. E vinho tinto, um Saint Joseph, genial. Antes havíamos bebido umas cervejas deliciosas, a Lefe e a Grimberger, ambas belgas. O sono caiu pesado, pelo cansaço da viagem e pela bebida também. Somos comedidos com relação ao álcool, a viagem nos colocou com sono. Fomos dormir por volta de 22h00, acordamos as 09h00, hora local. Que sono.


Foi com essa VTT que pedalei 420 km de Londres a Paris, em setembro de 2013.

UMA IDOSA NO CAIXA DO BANCO

Uma senhora idosa aproximou-se do balcão do banco com passos lentos, mas firmes. Estendeu o cartão bancário ao caixa e, com uma voz serena, ...