quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

PALAVRA DO DIA: PROFESSOR



Eu escrevo para procurar inspiração para escrever. Aquela história de que toda atividade humana segue a regra do noventa por dez é verdade. Noventa por cento de transpiração e dez por cento de inspiração. Eu poderia transformar a frase para colocá-la de uma outra forma, talvez mais erudita: noventa por cento de conhecimento e dez por cento de sabedoria, considerando que sabedoria é aquilo que você vai fazer com seu conhecimento. Ou que a gente só inova em cima do comum que já se conhece. Portanto não despreze nunca seu conhecimento pensando que ele não serve para nada. Vejam, já estou sendo professor, de novo.
É muito comum ouvirmos que muito do que se aprende na escola não serve muito. Ledo engano. O que se aprende faz parte de sua história, de sua bagagem cultural, e será muito importante nos momentos em que nos encontramos nas encruzilhadas das escolhas várias que fazemos todos os dias. A sua bagagem, a “mochila” (metafórica) que carrega nas costas, ajuda a definir estas escolhas. E o que temos dentro de nossa “mochila”? Conhecimento acumulado, cara, leituras mil dos livros e dos ambientes, transpiração. A “mochila” pesa? Tem importância não. Se ela pesa a gente transpira mais e chega rápido aos dez por cento requerido para a criação, para a inovação. No meu caso, para o texto escrito. Para a poesia.


segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

MÃE, PALAVRA DO DIA


A palavra do dia é mãe. É a palavra colocada no Facebook, grupo #quintal, onde sugerem que os membros escrevam e postem textos, de preferência microcontos, em que palavra do dia apareça. Então visito minhas páginas na web, em três blogues, e vejo o que já escrevi antes sobre a tal palavra.  
Sim, já escrevi sobre mães, já escrevi sobre minha mãe. Minha melhor forma de escrever é em versos, sou poeta. Não desses que decoram os próprios textos e saem declamando-os por aí. Não tenho essa tal de memória viva, preciso ler meus textos quando os declamo em público. Talvez seja um problema, talvez não. Penso que nunca seria ator.  
Mas mãe não é só uma palavra, mãe é uma entidade. Definidora de nossa identidade em tempos de criança, de quem nos afastamos quando ficamos adultos e de quem nos reaproximamos quando ela envelhece e nós nos tornamos sêniores. Foi assim com a minha. Aos dezoito anos tudo que eu queria era ir para bem longe de meus pais, Assim o fiz. E casei-me com uma mulher que fazia questão de ficar longe deles. Até que um dia peguei minha escova de dentes de minha bicicleta e saí de casa. Não voltei para a casa dos pais, apenas me reaproximei deles e isso foi muito bom. Cuidei bem de meu pai em sua velhice e agora tento cuidar de minha mãe o máximo possível.  
Minha mãe, no entanto, é uma pessoa distante. Ela quer que estejamos todos a seu redor, cuidando dela, mas a maneira que ela se coloca perante a situação de sua velhice, faz com que esse cuidado seja uma obrigação nossa, não um prazer compartilhado. Defeito dela? Não sei. Se for, tenho que relevar. Afinal ela tem noventa e dois anos. A gente pensa que uma pessoa dessa idade não tenha defeitos. Não é verdade. Seus defeitos ficam mais aflorados, enquanto ela, por sobrevivência, cala seus sentimentos. Não é mais hora de sofrimento. Afinal, ela já sofreu muito na vida, pois não tem vida sem sofrimento. Pelo menos minha mãe tenta levar a vida com um mínimo de alegria. - “Eu sou enrugada só por fora, por dentro ainda sou lisinha”. E conta aqueles casos de sua vida, alguns engraçados, outros tristes, mas que ela conta com uma certa graça. Aqueles casos que nós, seus filhos, já ouvimos umas cem vezes, mas rimos do mesmo jeito a cada vez. Nem sei se hoje rimos por achar engraçado ou se rimos de sua falta de memória ao nos contar o mesmo caso pela centésima vez como se fosse a primeira. O mais interessante é que ela conta do mesmo jeito, sempre, com todas as vírgulas e pausas para respiração nos mesmos lugares da narrativa. Incrível. Como se tivesse decorado. Como se estivesse no palco de um teatro e aquela cena precisasse ser ensaiada mais e mais vezes até chegar à perfeição de interpretação. E nós fôssemos a eterna plateia.  
Mas ela é uma atriz. Suas últimas performances no palco foram excepcionais. Os únicos momentos em que sua surdez progressiva não a incomodava. Como fazer para não errar seus momentos de entrada e fala em cena? Perguntei-me uma vez. E fui para a coxia investigar como ela fazia. Foi quando descobri que surdez é também um caso de atenção. Ela decorava todo o texto, não apenas suas falas. E ficava na porta do palco atenta às falas e atuações dos colegas. E repetindo as falas em voz baixa. Assim, quando chegava sua vez, ela entrava em cena sem erro. Danadinha. E era espirituosa, elegante e ativa em cena. Quando um colega errava ela improvisava impedindo assim que o público percebesse o erro do colega ator ou atriz. Era querida por todos. Quando o grupo de teatro encerrou as atividades por envelhecimento dos atores e, talvez por isso, falta de patrocinadores, ela se amotinou em casa. Não quis mais sair de casa. Só por insistência nossa. E aí a surdez foi tomando conta, até escutar apenas o mínimo. 
Coincidentemente, estou sentado aqui frente à tela esperando a hora de ir ver minha mãe. Espero a funcionária da casa verificar o que falta na geladeira para que eu compre antes de ir. É que levo minha filha, meu genro e meus dois netos (seus bisnetos, portanto) para visita e almoço. Sendo hoje segunda-feira, dia de geladeira vazia, devo me preocupar com o abastecimento.  
Dia de prazer em triplo: mãe, filha e netos. E que venha a semana que eu estou pronto. 

A PESSOA IDOSA E OS JOGOS DE AZAR

  Vivendo e aprendendo a jogar Nem sempre ganhando Nem sempre perdendo Mas aprendendo a jogar. (Guilherme Arantes) Estive no Corre...