sábado, 8 de março de 2014

A MORTE E A MORTE DE FRANCISCO


Escrevi que não mais escreveria sobre a morte e a morte de meu pai. Furo a promessa só por uma razão: sua imagem deixou de aparecer em meus sonhos. Ele aparece em meus sonhos como névoa fugidia. Pergunto, no sonho, à minha mãe: - onde está papai? Ela responde: - está lá na frente. Eu olho "lá na frente" e vejo apenas uma luz e uma sombra desaparecendo na curva. São a luz e a sombra que o acompanham, reconheço os traços no chão. Agora sim, escrevo novamente que não mais escreverei sobre a morte e a morte de meu pai. E mais: creio que não sonharei mais com ele.

( O título é uma paródia - homenagem ao título de uma novela de José Saramago - A morte e a morte de Ricardo Reis. Ricardo Reis é um dos pseudônimos de Fernando Pessoa).

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