13/042015
Entre 1968 e 1970 eu cursava o terceiro ano científico, o
ensino médio na nomenclatura de hoje. Não éramos muitos. O ensino médio público
e gratuito era recente, a minha turma foi uma das primeiras daquela escola.
Tinha muito espaço, salas de aula razoáveis, um pátio grande e um ginásio de
esportes. E tinha um vigilante, chamado de disciplinário, cuja função era
evitar gazeta durante o horário de aulas, impedir que os alunos entrassem
depois da hora sem uma razão justificada e assinada por quem fosse responsável,
e impedir também que os alunos fossem embora mais cedo, antes que a aula
terminasse. Nisso ele fracassava porque nosso esporte favorito era vigiá-lo
para fugirmos pelos fundos da escola, passando atrás da quadra de esportes e
saltando o muro. O muro dava para um matagal à beira do Rego Grande (nome do
córrego canalizado). Nós já tínhamos limpado os caminhos nesse matagal para
passarmos sem problemas. Os professores eram bons em sua maioria, alguns com
boa formação, outros muito esforçados.
A minha turma de primeiro ano era bem grande, na verdade
eram duas turmas que às vezes tinham aulas em conjunto, às vezes se dividiam.
Uma turma tinha um reforço em Biologia, outra tinha um reforço em Matemática. A
escola, teoricamente, nos preparava para os exames vestibulares de áreas de
ciências biológicas e saúde, uma turma, e de ciências exatas e engenharias, a
outra. Quando cursávamos a metade do segundo ano a UFMG instituiu o vestibular
unificado e tivemos que estudar de tudo, com atraso em Biologia, mas uma
professora se dispôs a nos ajudar e compensar o atraso.
Minha turma de terceiro ano, em 1970, tinha apenas 17
alunos, 10 rapazes e 7 moças. Fazíamos muitas festas e a professora de Biologia
nos acompanhava nas festas. Eu sempre dançava com ela, conversávamos muito e começamos
a namorar. Foi um caso sério. Ela era cinco anos mais velha que eu, minha
professora, filha do vice-prefeito da cidade, morava em bairro de classe média
alta, e tinha um fusquinha verde. Eu? Um monstrinho da periferia: sem dinheiro,
cabeça grande e magrelo, só tinha dois pares de roupa, um no corpo outro entre
o cesto de roupa suja e o varal, escutava Beatles, Milton, Chico e Vandré e não
torci para a seleção brasileira de futebol, por motivos políticos, até ela
entrar em campo.
Namorar, para mim, era uma farra. Eu era muito irresponsável
com isso e fui muito irresponsável com aquela mulher, delicada e educada,
poderia ter sido uma grande companheira. No ano seguinte, já na faculdade,
outras mulheres me interessaram e eu a deixei, sem mais nem menos. Eu só fui
pensar no fato anos mais tarde, quando percebi que minhas escolhas da ocasião não
foram as melhores, mas foram minhas escolhas e eu não podia lamentar isso.
Porque não se volta no tempo, só em algumas ficções em que o enredo sempre
acaba mal. O tempo sempre coloca uma penumbra intransponível na história.
Eu só a reencontrei uns trinta anos mais tarde e ela tinha o
mesmo sorriso. Conversamos animadamente como se tivéssemos nos visto na semana
anterior. Mas, de novo, não nos vimos mais. Talvez mais trinta anos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário