Eu não sei
se os mistérios estão ficando mais frequentes em minha vida ou se eu estou
deixando de prestar atenção em alguns detalhes do entorno e do meu cotidiano, o
fato é que coisas acontecem e eu não encontro explicações aceitáveis pela minha
racionalidade lógica. Isto porque talvez eu tenho sido por demais
condescendente com as pessoas. A crise moral que assola o país pode estar a
deixar mais sequelas que podemos imaginar.
Bom, deixo
de especulações filosóficas e passo aos fatos. Semana passada eu e sete de meus
oito irmãos cumprimos um planejamento: visitar, em surpresa, o oitavo irmão
(nove comigo), residente em Goiânia. Eu e uma irmã viajamos de Belo Horizonte a
Goiânia via Brasília e, chegando ao destino, ficamos esperando um outro mano
que fez o trajeto via São Paulo. Ficamos um pouco mais de uma hora a esperar no
aeroporto, eu portava uma mala e uma mochila verde. Meus pertences na mochila eram
aqueles pessoais, próprios de se carregar em mochilas: agenda, documentos, um
caderno, um bloco de notas, um livro de ler em viagens, um óculos de reserva,
uma máquina fotográfica com pilhas e carregador de pilhas, um carregador de
celular, duas canetas, um lápis, pente de pentear cabelos finos e ralos, um
perfume, chaves de casa e uma ou outra coisa, de pequeno valor, que posso estar
esquecendo agora. Quando nosso mano chegou, abraços, emoções, alegrias, casos,
etc., saímos para pegar um taxi e, ONDE ESTÁ MINHA MOCHILA? Volto aos lugares
por onde transitei, encontro o chefe da segurança do aeroporto, ele comunica
pelo rádio com outros funcionários, vou ao guichê da Infraero e registro a
ocorrência, dou mais uma volta e como não mais tenho notícias de minha mochila
verde, entramos no taxi e fomos embora.
Desapega,
Paulo, foi o que ouvi dos manos e de minha voz interior, insistente e sempre
pertinente voz, felizmente, não vou estragar o fim de semana programado por
causa disso, vamos que vamos. Telefono ao banco para notificar a perda dos
cartões bancários, débito e crédito, tinha dinheiro no bolso suficiente para o
fim de semana.
E o fim de
semana foi maravilhoso. A surpresa do oitavo irmão (somos nove), morador de
Goiânia, foi enorme, ele não cabia em si de tanta emoção, emoção aliás
compartilhada por todos, como disséramos nós, foi uma operação de resgate da
união fraternal após a morte de nosso pai. Cervejas e uma boa cachaça de
Salinas, queijo Minas da Chapada, a ótima mandioca do quintal do mano, bom
caldo com carne de sol à noite para acalmar a friagem, muito riso e papo,
frango com guabiroba no almoço de sábado, sono em colchões de ar que havíamos
levado, tudo lindo e maravilhoso, não me incomodei com a perda porque o ganho
com a reunião com os irmãos foi muito maior. Tirando a chateação de ter que
solicitar segunda via de carteira de motorista e de cartões de banco, o resto
não era nada. Coisas materiais substituíveis.
Segunda-feira,
hora de voltar para casa, chego cedo ao aeroporto, despacho a mala e vou de
novo ao escritório da Infraero, era outro funcionário, relato de novo o
ocorrido, novos telefonemas, o setor de Achados e Perdidos fecha para o almoço
de meio-dia a uma hora, era meio-dia e meio e meu voo era uma e vinte, não
daria tempo de esperar abrir o setor. O funcionário telefona para um e outro,
seguranças e funcionários de qualquer lugar, nunca se sabe, não, nenhuma
notícia de uma mochila verde. Minha esperança era de que o sujeito que tivesse
se apoderado ou simplesmente encontrado minha mochila tivesse levado o que
havia de valor e deixado o que era importante apenas para mim e mais ninguém.
Vã esperança. Senhoras e senhores, última chamada para o voo três mil duzentos
e noventa e dois com destino a Congonhas, (a volta foi por São Paulo), lá vamos
nós, lá se foi minha mochila verde. Meu irmão de Goiânia ficaria mais um pouco
para esperar abrir o escritório da Achados e Perdidos, enviou depois um Whatsapp
informando que lá ficou até duas horas e, segundo o funcionário que o atendeu,
não havia nenhuma mochila verde no setor.
Ok, de volta
para casa, a vida continua, agora é trabalhar para esquecer o ocorrido, vai
para a lista de perdas e danos não reclamáveis judicialmente, na terça de manhã
minha agenda perdida deveria estar marcando um compromisso às dez horas, ainda
bem que a memória é boa, esse compromisso durou até o meio-dia. Antes de sair
para almoçar dou uma olhada em minha caixa de entrada de correio eletrônico e lá estava registrado o
seguinte e-mail:
Caro Senhor,
“Foi localizado no Aeroporto de
Goiânia, mochila VERDE Targos, com máquina fotográfica FUJI S9100 e documentos
diversos (Agenda de anotações, livro Segredos da Mente Milionária, Passagem
LATAM trecho BHZ/GYN), com indicação de seu endereço de e-mail, no qual é feito
contato, para que em retorno a Goiânia, faça procuração dos bens mencionados,
no setor de Achados/Perdidos localizado no térreo do aeroporto, sala:
Supervisores Aeroporto, no horário comercial de 08:00 às 17:00hs.
PSA K…”
Várias trocas
de e-mail em poucas horas e ficou acertado que o mano goiano pegaria a mochila
e a enviaria por Sedex para meu endereço em Belo Horizonte. Dá para entender o ocorrido? Onde estava esta
mochila verde? Com quem? Se quem a pegou não tinha intenção de furtar, já que
TODO o conteúdo da mesma estava lá, nada foi tirado, porque não a entregou no
setor de Achados e Perdidos imediatamente? Ou a entregou e o serviço do
aeroporto não é dos melhores e a mochila ficou em um canto qualquer e não foi
vista quando procurada?
O conteúdo
da mochila verde chegou via correios e a mochila, por não caber dentro da caixa
do Sedex, está em posse de meu irmão que vai trazê-la no próximo mês quando
vier nos visitar.
Mas o mistério
da mochila verde continuará sendo um mistério.
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