sábado, 2 de julho de 2016

O MISTÉRIO DA MOCHILA VERDE



Eu não sei se os mistérios estão ficando mais frequentes em minha vida ou se eu estou deixando de prestar atenção em alguns detalhes do entorno e do meu cotidiano, o fato é que coisas acontecem e eu não encontro explicações aceitáveis pela minha racionalidade lógica. Isto porque talvez eu tenho sido por demais condescendente com as pessoas. A crise moral que assola o país pode estar a deixar mais sequelas que podemos imaginar.

Bom, deixo de especulações filosóficas e passo aos fatos. Semana passada eu e sete de meus oito irmãos cumprimos um planejamento: visitar, em surpresa, o oitavo irmão (nove comigo), residente em Goiânia. Eu e uma irmã viajamos de Belo Horizonte a Goiânia via Brasília e, chegando ao destino, ficamos esperando um outro mano que fez o trajeto via São Paulo. Ficamos um pouco mais de uma hora a esperar no aeroporto, eu portava uma mala e uma mochila verde. Meus pertences na mochila eram aqueles pessoais, próprios de se carregar em mochilas: agenda, documentos, um caderno, um bloco de notas, um livro de ler em viagens, um óculos de reserva, uma máquina fotográfica com pilhas e carregador de pilhas, um carregador de celular, duas canetas, um lápis, pente de pentear cabelos finos e ralos, um perfume, chaves de casa e uma ou outra coisa, de pequeno valor, que posso estar esquecendo agora. Quando nosso mano chegou, abraços, emoções, alegrias, casos, etc., saímos para pegar um taxi e, ONDE ESTÁ MINHA MOCHILA? Volto aos lugares por onde transitei, encontro o chefe da segurança do aeroporto, ele comunica pelo rádio com outros funcionários, vou ao guichê da Infraero e registro a ocorrência, dou mais uma volta e como não mais tenho notícias de minha mochila verde, entramos no taxi e fomos embora.

Desapega, Paulo, foi o que ouvi dos manos e de minha voz interior, insistente e sempre pertinente voz, felizmente, não vou estragar o fim de semana programado por causa disso, vamos que vamos. Telefono ao banco para notificar a perda dos cartões bancários, débito e crédito, tinha dinheiro no bolso suficiente para o fim de semana.

E o fim de semana foi maravilhoso. A surpresa do oitavo irmão (somos nove), morador de Goiânia, foi enorme, ele não cabia em si de tanta emoção, emoção aliás compartilhada por todos, como disséramos nós, foi uma operação de resgate da união fraternal após a morte de nosso pai. Cervejas e uma boa cachaça de Salinas, queijo Minas da Chapada, a ótima mandioca do quintal do mano, bom caldo com carne de sol à noite para acalmar a friagem, muito riso e papo, frango com guabiroba no almoço de sábado, sono em colchões de ar que havíamos levado, tudo lindo e maravilhoso, não me incomodei com a perda porque o ganho com a reunião com os irmãos foi muito maior. Tirando a chateação de ter que solicitar segunda via de carteira de motorista e de cartões de banco, o resto não era nada. Coisas materiais substituíveis.  

Segunda-feira, hora de voltar para casa, chego cedo ao aeroporto, despacho a mala e vou de novo ao escritório da Infraero, era outro funcionário, relato de novo o ocorrido, novos telefonemas, o setor de Achados e Perdidos fecha para o almoço de meio-dia a uma hora, era meio-dia e meio e meu voo era uma e vinte, não daria tempo de esperar abrir o setor. O funcionário telefona para um e outro, seguranças e funcionários de qualquer lugar, nunca se sabe, não, nenhuma notícia de uma mochila verde. Minha esperança era de que o sujeito que tivesse se apoderado ou simplesmente encontrado minha mochila tivesse levado o que havia de valor e deixado o que era importante apenas para mim e mais ninguém. Vã esperança. Senhoras e senhores, última chamada para o voo três mil duzentos e noventa e dois com destino a Congonhas, (a volta foi por São Paulo), lá vamos nós, lá se foi minha mochila verde. Meu irmão de Goiânia ficaria mais um pouco para esperar abrir o escritório da Achados e Perdidos, enviou depois um Whatsapp informando que lá ficou até duas horas e, segundo o funcionário que o atendeu, não havia nenhuma mochila verde no setor.

Ok, de volta para casa, a vida continua, agora é trabalhar para esquecer o ocorrido, vai para a lista de perdas e danos não reclamáveis judicialmente, na terça de manhã minha agenda perdida deveria estar marcando um compromisso às dez horas, ainda bem que a memória é boa, esse compromisso durou até o meio-dia. Antes de sair para almoçar dou uma olhada em minha caixa de entrada de  correio eletrônico e lá estava registrado o seguinte e-mail:

Caro Senhor,
“Foi localizado no Aeroporto de Goiânia, mochila VERDE Targos, com máquina fotográfica FUJI S9100 e documentos diversos (Agenda de anotações, livro Segredos da Mente Milionária, Passagem LATAM trecho BHZ/GYN), com indicação de seu endereço de e-mail, no qual é feito contato, para que em retorno a Goiânia, faça procuração dos bens mencionados, no setor de Achados/Perdidos localizado no térreo do aeroporto, sala: Supervisores Aeroporto, no horário comercial de 08:00 às 17:00hs.
PSA K…”

Várias trocas de e-mail em poucas horas e ficou acertado que o mano goiano pegaria a mochila e a enviaria por Sedex para meu endereço em Belo Horizonte.  Dá para entender o ocorrido? Onde estava esta mochila verde? Com quem? Se quem a pegou não tinha intenção de furtar, já que TODO o conteúdo da mesma estava lá, nada foi tirado, porque não a entregou no setor de Achados e Perdidos imediatamente? Ou a entregou e o serviço do aeroporto não é dos melhores e a mochila ficou em um canto qualquer e não foi vista quando procurada?

O conteúdo da mochila verde chegou via correios e a mochila, por não caber dentro da caixa do Sedex, está em posse de meu irmão que vai trazê-la no próximo mês quando vier nos visitar.

Mas o mistério da mochila verde continuará sendo um mistério.



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