Ontem eu estive em Nova Lima, bairro Cabeceiras, Rua Pio XII, 59. Visitei a minha mãe. Ela tem noventa e três anos e mora com um neto, meu sobrinho. Durante o dia ela tem a companhia de uma cuidadora, uma pessoa gentil que cuida dela e da casa. E aos finais de semana tem sempre alguém com ela, na maioria das vezes uma de minhas irmãs. Minha mãe está bem. Apesar da idade, ela está bem lúcida, bem alegre. O bom humor sempre foi uma de suas características. Hoje em dia ela se lembra mais das coisas do passado mais distante, se esquece do que fez minutos atrás, faz parte da idade e também porque não podemos sair de casa. Tem um vírus lá fora matando pessoas e que nos mantém distantes dos parentes e dos amigos e de seus abraços. É este o momento que vivemos.
Eu passei em sua casa e lá fiquei durante meia hora. Ela
gostou da visita, riu bastante e ainda contou alguns pequenos casos. O diálogo
com ela, hoje em dia, tem sido de conversas curtas, ela não se lembra das
coisas, mesmo assim consegue manter uma conversação razoável porque nós sabemos
de que ela precisa. Ela precisa de carinho, de afeto. E ela vê isso em nossos
olhos. Ela vê isso em meus olhos. Não demoramos, minha mulher e eu, porque
tínhamos outro compromisso. Como ela escuta pouco, não adianta telefonar para
ela. Ela não entende o telefone. De vez em quando eu ligo em vídeo com quem
está com ela. Assim ela me vê e a acompanhante traduz para ela o que eu falei.
E assim se passam os dias atuais com minha mão. E respondendo à pergunta, eu
falei com ela ontem.
Com meu pai eu falei a última vez em trinta e um de dezembro
de dois mil e treze às dezenove horas e poucos minutos. Faz um tempo, não é? Eu
cheguei em sua casa por volta de dezenove horas, entrei em seu quarto e ele
estava deitado em sua cama. Quando me viu entrar sorriu para mim e pronunciou
meu nome. Eu fiquei ao lado de sua cama até as vinte e duas horas, sentado a
seu lado, olhando sua respiração. Foi a última vez que falei com ele. Depois
desse dia eu apenas sonhei com ele uma vez. E foi só. No entanto, ele é uma
lembrança permanente em minha vida. Seu legado em mim é muito forte.
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