A pandemia nos trouxe medos diferentes, além do natural medo da morte, que todos temos. Veio o medo da perda de pessoas queridas. Nesses dois anos de pandemia perdi uns cinco amigos diretos e muitos conhecidos, amigos e parentes de amigos. Nem foi possível chorar por eles. Não tiveram aquele velório com vigília noturna e café quente (até mesmo uma cachacinha) para nos esquentar durante a madrugada. Velório é aquele em que a gente encontra velhos amigos e parentes há muito não vistos e ficamos nos falando sobre os velhos tempos.
Agora temos medo da tosse do vizinho, do abraço apertado da
amiga que nos abraçava sempre que nos via e do chamego gostoso de primos e
primas. Este medo moderno, contemporâneo, é assustador. Veio para ficar? O que
temos a aprender com ele? Será que aprendemos?
Alguns dizem que trouxe a solidariedade. Será? A
solidariedade existe onde sempre existiu: entre os iguais na dor. A pandemia
não nos trouxe a solidariedade social, organizacional, institucional. Se
aqueles que deveriam divulgar, difundir e espalhar a solidariedade pelos quatro
cantos e, com exemplos, dar atenção e apoio aos que mais necessitam, sonegam
vacinas a crianças e afirmam que cloroquina, condenada no mundo inteiro, é
melhor que vacina, quem nos acudiria?
Aumentaram as desigualdades sociais, os preços foram às
alturas em nome de uma internacionalização de custos, o desmatamento aumentou
em demasia, mortes de indígenas, negros e população LGTBQ+ bateram recordes, violência
doméstica cresceu, o custo do sistema político antidemocrático mais que duplicou,
o agronegócio acumula lucros enquanto a fome aumenta. A boiada passa, enfim,
como sugeriu o ex-ministro.
O que aprendemos, então? Aprendemos que a dor continua
solitária.
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