13/09/2013
Ao acordar, não me lembrava que era sexta-feira treze, dia
dos azares possíveis e inacreditáveis. Sem acreditar nos azares possíveis e
inacreditáveis da vida, levantei-me, tomei uma ducha e desci para o café da
manhã no Hôtel Moderne, em Gisors. E pela primeira vez não acordei com os
roncos de meus colegas de viagem, tão cansado estava depois de pedalar os
oitenta quilômetros do dia anterior. Chovia muito finamente e, logo, logo,
tomamos a estrada, que agora seguia rumo a Cergy (http://pt.wikipedia.org/wiki/Cergy).
A decisão de ir até Cergy foi tomada na estrada, para dizer a verdade. Faltavam
cento e vinte quilômetros para o destino final, Paris. Como estávamos em forma
e a rota a partir de Gisors era de poucas subidas e descidas, refizemos nosso propósito
de fazer o trajeto em três dias e resolvemos fazê-lo em dois. Sessenta
quilômetros por dia era uma meta mais que viável. Foi uma boa decisão.
O caminho seguia por pistas exclusivas para bicicletas até
Bray-et-Lû. Na paisagem, fazendas, vilas e castelos. Tão parecida e tão
diferente das paisagens anteriores. Nas fazendas, menos criação de bovinos,
mais plantações de milho, beterraba para o açúcar, e outros. Em Bray-et-Lû
retomamos as estradas compartilhadas. A remarcar o Château de Villarceaux (http://villarceaux.iledefrance.fr/),
um belo castelo no meio do nada. Depois de Villarceaux, Maudéton-em-Venin,
Arthies, Wy-dit-Joli-Village, Gadaucont, Avernes, Théméricourt, Vigny (essa uma
vila um pouco maior), Longuesse, Sagy e, finalmente, Cergy.
A etapa do dia foi tranquila, a registrar apenas o encontro
com um casal que fazia o mesmo trajeto que nós. Saíram de Londres e chegavam a
Paris. Na verdade, eles não chegariam a Paris de bicicleta. Ao final do dia, em
Cergy, eles tomariam o trem, porque queriam estar em Paris no sábado. Pedalamos
mais ou menos próximo por algumas horas e quando paramos para almoçar nossos
sanduiches eles seguiram em frente. A registrar ainda o fato de que chegamos a
Cergy e ninguém sabia nos informar onde haveria um hotel no centro que
hospedasse ciclistas e suas bicicletas sujas. Finalmente perguntamos a um
senhor montado sobre uma enorme motocicleta, dessas com potência de mil e
duzentas cilindradas. Ele nos sugeriu segui-lo que ele nos conduziria a um
hotel fora do centro. Nós o seguimos, e um quilômetro depois ele nos mostrou um
hotel Formule Un, da rede Accord, à beira da rodovia de saída da cidade. Foi
muita gentileza dele conduzir sua potente moto devagar tal que pudéssemos acompanhá-lo
em bicicletas, e nos mostrar o hotel, provavelmente fora de seu trajeto
habitual. Esse foi um lado extremamente positivo da viagem: o encontro com
pessoas desconhecidas que se dispõem gentilmente a ajudar. Como os europeus
adoram aventuras eles sempre ajudam aventureiros do mundo inteiro. E isso torna
nossa viagem mais curiosa e interessante. Obrigado a todos esses ilustres
desconhecidos.
O hotel Formule Un tem uma quantidade enorme de pequenos quartos.
Todos iguais, com uma cama de casal e uma cama suspensa sobre a cama de casal.
Pela primeira vez dormimos em dois quartos. E levamos as bicicletas para os
quartos pois não havia onde colocá-las. O WC e a sala de banho (assim que os
chamam na França, e são separados) ficam no corredor e são autolimpantes. Após
o uso eles se lavam automaticamente. Assim estão sempre limpos. Bem em frente
ao hotel havia um restaurante chinês autosserviço, com comida variada e farta,
dezesseis euros por pessoa. Autorizamo-nos acompanhar de um Saint-Emillion
Grand Cru 2005, trinta e um euros a garrafa, maravilhoso. Depois disso tudo,
foi só cair na horizontal que o sono veio logo.
Foto 1: Roberto, eu e a garrafa de Saint-Emillion
Foto 2: A caminho de Cergy
Foto 3: Uma das muitas esquinas do caminho
Foto 4: Ainda a caminho de Cergy, trajeto pelsa fazendas de beterraba
Foto 5: A chegada em Cergy.
Nenhum comentário:
Postar um comentário