Que esporte um jovem morador de periferia poderia praticar nos anos mil novecentos e sessenta? Acertou quem disse futebol. Bastava uma bola, um local plano, pedras servindo de trave, e vizinhos da mesma geração. E eu ainda tive o privilégio de residir a quinhentos metros de um campo de futebol de várzea para onde fugia de vez em quando aos fins de tarde. Logo o futebol foi, durante muitos anos, o meu esporte preferido para torcer e, principalmente, jogar.
Foi. Deixou de ser há muito tempo. Ainda gosto do futebol
bem jogado, mas aquele torcedor apaixonado pelo clube não existe mais. Desde o
dia em que líderes de torcida organizada do time que tinha a minha paixão
agrediu e matou jovens na rua. Simplesmente porque eles atravessaram seus
caminhos portando uma camisa do time adversário. Não dá mais para gostar de futebol
e torcer sabendo que todos, jogadores, jornalistas e torcida são
manipulados desde aquele ponto onde se encontra o Calcanhar de Aquiles dos
brasileiros: a violência enjaulada nos corações e mentes.
As olimpíadas nos mostraram, como sempre, que há uma forma
civilizada de praticar esporte e torcer. Que mesmo dando pancada em seu
oponente, nos esportes de luta, é possível, e necessário, abraçá-lo depois do jogo ganhando ou perdendo. E que
é possível até mesmo comemorar a vitória de seu adversário como se fosse sua,
como fizeram os garotos e garotas do skate. E que respeitar os árbitros é também possível
em todos os esportes, menos, é claro, no futebol. E que os jogadores de futebol
não respeitam nem mesmo os atletas de outros esportes olímpicos ao se recusarem
a vestir o uniforme igual a todos.
Pena que as olimpíadas só acontecem de vez em quando. Mas os
esportes continuam, as competições nos campeonatos de cada modalidade voltam a
acontecer logo, logo. Há inúmeras outras possibilidades no mundo dos esportes.
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