Os velhos estão indo embora. Meu pai já foi. De seus nove irmãos restam três. Seus primos estão pela metade. Talvez isso seja amadurecer: perceber que os parentes e amigos da geração de seus pais estão partindo um a um. E que os de minha geração se encontram mais em velórios que em festas.
Um deles, no entanto, parece estar ficando para semente.
Semente de gente. Já foi flor, deu frutos, agora se curva ao peso da idade, mas
permanece. Mais de cem anos. Bem mais. Alguns afirmam que tenha chegado aos
cento e vinte. Como ninguém de seu tempo ficou por aqui, não há confirmação de
datas. E ele não tem mais documentos. Apenas alguns cuidam dele até mesmo por
considerá-lo exótico. E ele fala tão baixo que ninguém lhe escuta.
Dias atrás, no entanto, o velho desapareceu de seu quarto.
Ninguém o viu sair. Encontraram suas pegadas na estrada poeirenta da montanha. Ninguém
foi atrás dele. Provavelmente subiu a montanha para morrer. O dia estava claro,
céu azulado, um bom dia para morrer. Resolvi procurá-lo eu mesmo. Depois de
dois dias de caminhada o encontrei no alto da serra conversando com pássaros e
alguns animais. Todos pareciam felizes com sua presença.
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