11/09/2013
Após o café da manhã no hotel em Newhaven (eu dormi muito
bem, mas meus colegas de viagem disseram não ter dormido tão bem pois suas
camas não eram muito boas) pedalamos direto ao porto para pegar o ferryboat,
que partiu, nesse dia, às dez horas (http://www.newhavenferryport.co.uk/).
O barco é enorme e havia uma fila gigantesca de caminhões, carros e vans.
Compramos os bilhetes, uma senhora loura com piercing na sobrancelha nos
atendeu, e entramos na fila. Um funcionário nos chamou e nos passou à frente da
fila, éramos três bicicletas. A passagem na alfândega inglesa foi sem problema,
sem perguntas colocadas, então pedalamos até o navio, um caminho plano entre
caminhões, ônibus, vans e carros de passeio. Quase não havia motos. Depositamos
as bicicletas no fundo do barco em um local apropriado para a s bicicletas,
éramos uns dez ciclistas em trânsito para a França, ao todo. Deixamos as
bicicletas e subimos até o convés para as tradicionais fotos do local no
horário de partida. Depois das fotos de praxe descemos até a lanchonete do
ferryboat, sentamo-nos a uma mesa confortável e conversamos bastante. Quatro
horas de travessia é um tempo razoável, o barco é lento.
Almoçamos no barco, um autosserviço razoável. Meu prato:
fatias de atum defumado de entrada, peixe empanado com ervilha e arroz, pão e
suco de laranja – dezesseis euros (caro pacas, mas era na travessia do Canal da
Mancha, não é todo dia). À nossa frente na fila estavam três jovens senhoras
carregando seis platôs, ou seja, compravam almoço para outras pessoas. Logo
percebi que acompanhavam senhoras idosas em cadeira de rodas (confirmei depois
quando as vi à mesa). Como o atendente cobrava prato por prato (dava o preço,
recebia o dinheiro, dava o troco, prato a prato, mesmo sendo a mesma pessoa a
pagar) o processo demorou um pouco e isso impacientou alguns fregueses. Atrás de
nós havia um senhor inglês que xingava as mulheres em inglês e francês. Quando
uma das senhoras pagava e catava moedas em sua bolsa o tipo infeliz jogou uma
moeda no prato delas. Que calhorda! Impaciente e de uma grosseria sem tamanho.
Eu nunca vi tal coisa em uma fila de restaurante.
Uma vez em Dieppe, na Normandia (França) pegamos nossas
bicicletas, passamos pela alfândega francesa sem problemas, sem questões
colocadas e pé no pedal. O objetivo do dia era chegar a Neufchâtel-en-Bray,
trinta e seis quilômetros em direção a Paris (http://fr.wikipedia.org/wiki/Neufch%C3%A2tel-en-Bray), mas fizemos uma parada em Dieppe para carregamento de suprimentos para viagem e conhecer um pouco a bela cidade.
De início, a rota seguia em pista paralela às ruas e
estradas, pequenos cantos às vezes marcados para ciclistas, às vezes não. Os
motoristas são gentis, aguardam o bom momento de nos ultrapassar, nunca nos
colocando em situação de risco. Chegando em Arques-la-Bataille (http://fr.wikipedia.org/wiki/Arques-la-Bataille),
oito quilômetros depois, a pista de ciclista torna-se exclusiva e segue por
parques com belos pequenos lagos, para então entrar em um longo trecho
construído sobre uma antiga ferrovia. A pista é plana e margeia pequenas vilas
e castelos até Forges-les-Eaux (http://fr.wikipedia.org/wiki/Forges-les-Eaux).
Uma ótima ideia essa de construir pistas para ciclistas sobre uma velha
ferrovia. Fiquei imaginando quanto nós, em Minas, e no Brasil, perdemos com
isso. Poderíamos ter belas pistas quase planas, em lugares magníficos, saindo
de Belo Horizonte, passando por Ouro Preto, Mariana, Viçosa, Ubá, chegando a
Juiz de Fora e Rio de Janeiro. A ferrovia que havia nesse trecho não há mais, o
mato tomou conta, pessoas invadiram, e perdemos um belo passeio de bicicleta
entre Belo Horizonte e essas cidades. Talvez uns trezentos quilômetros de pista
sinuosa e entre montanhas, que poderiam ser percorridos em uns cinco dias.
Chegamos a Neufchâtel-en-Bray por volta de dezoito horas,
procuramos por um hotel marcado no livro/mapa de La Avenue Verte. Um estava
fechado, outro estava cheio. Uma senhora mal educada nos recebeu, pedimos
informação de outro hotel, e ela disse: - no centro da cidade, talvez, eu não
sei de nada, eu me ocupo da vida dos outros e não da vida dos outros. –
Silenciamo-nos e fomos procurar outro hotel. Encontramos rapidamente, chegando
ao centro da cidade, o Hôtel de Grand Cerf (http://www.hotel-grandcerf.fr/), com
uma inscrição na porta: “ciclistas benvindos”, em francês e em inglês, com
estacionamento para bicicletas, torneira e mangueira para lavá-las e o gerente
nem nos pediu documentos. Tivemos um quarto para três com muito espaço, água
quente, sabonete líquido, secador de cabelos (que no caso serviu de secador de
nossas roupas), restaurante no próprio hotel (excelente cozinha da terra) e
café da manhã reforçado. E tudo isso por cento e setenta e um euros para os
três, mais a gentileza das pessoas, tanto os que trabalhavam quanto os outros
hóspedes, isso não tem preço. E todos ficavam curiosos em perguntar o que três
brasileiros, montados em bicicletas, faziam por ali.
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