sexta-feira, 24 de outubro de 2014

LONDRES - PARIS: QUARTO DIA DE PEDAL


11/09/2013

Após o café da manhã no hotel em Newhaven (eu dormi muito bem, mas meus colegas de viagem disseram não ter dormido tão bem pois suas camas não eram muito boas) pedalamos direto ao porto para pegar o ferryboat, que partiu, nesse dia, às dez horas (http://www.newhavenferryport.co.uk/). O barco é enorme e havia uma fila gigantesca de caminhões, carros e vans. Compramos os bilhetes, uma senhora loura com piercing na sobrancelha nos atendeu, e entramos na fila. Um funcionário nos chamou e nos passou à frente da fila, éramos três bicicletas. A passagem na alfândega inglesa foi sem problema, sem perguntas colocadas, então pedalamos até o navio, um caminho plano entre caminhões, ônibus, vans e carros de passeio. Quase não havia motos. Depositamos as bicicletas no fundo do barco em um local apropriado para a s bicicletas, éramos uns dez ciclistas em trânsito para a França, ao todo. Deixamos as bicicletas e subimos até o convés para as tradicionais fotos do local no horário de partida. Depois das fotos de praxe descemos até a lanchonete do ferryboat, sentamo-nos a uma mesa confortável e conversamos bastante. Quatro horas de travessia é um tempo razoável, o barco é lento.

Almoçamos no barco, um autosserviço razoável. Meu prato: fatias de atum defumado de entrada, peixe empanado com ervilha e arroz, pão e suco de laranja – dezesseis euros (caro pacas, mas era na travessia do Canal da Mancha, não é todo dia). À nossa frente na fila estavam três jovens senhoras carregando seis platôs, ou seja, compravam almoço para outras pessoas. Logo percebi que acompanhavam senhoras idosas em cadeira de rodas (confirmei depois quando as vi à mesa). Como o atendente cobrava prato por prato (dava o preço, recebia o dinheiro, dava o troco, prato a prato, mesmo sendo a mesma pessoa a pagar) o processo demorou um pouco e isso impacientou alguns fregueses. Atrás de nós havia um senhor inglês que xingava as mulheres em inglês e francês. Quando uma das senhoras pagava e catava moedas em sua bolsa o tipo infeliz jogou uma moeda no prato delas. Que calhorda! Impaciente e de uma grosseria sem tamanho. Eu nunca vi tal coisa em uma fila de restaurante.

Uma vez em Dieppe, na Normandia (França) pegamos nossas bicicletas, passamos pela alfândega francesa sem problemas, sem questões colocadas e pé no pedal. O objetivo do dia era chegar a Neufchâtel-en-Bray, trinta e seis quilômetros em direção a Paris (http://fr.wikipedia.org/wiki/Neufch%C3%A2tel-en-Bray),  mas fizemos uma parada em Dieppe para carregamento de suprimentos para viagem e conhecer um pouco a bela cidade.

De início, a rota seguia em pista paralela às ruas e estradas, pequenos cantos às vezes marcados para ciclistas, às vezes não. Os motoristas são gentis, aguardam o bom momento de nos ultrapassar, nunca nos colocando em situação de risco. Chegando em Arques-la-Bataille (http://fr.wikipedia.org/wiki/Arques-la-Bataille), oito quilômetros depois, a pista de ciclista torna-se exclusiva e segue por parques com belos pequenos lagos, para então entrar em um longo trecho construído sobre uma antiga ferrovia. A pista é plana e margeia pequenas vilas e castelos até Forges-les-Eaux (http://fr.wikipedia.org/wiki/Forges-les-Eaux). Uma ótima ideia essa de construir pistas para ciclistas sobre uma velha ferrovia. Fiquei imaginando quanto nós, em Minas, e no Brasil, perdemos com isso. Poderíamos ter belas pistas quase planas, em lugares magníficos, saindo de Belo Horizonte, passando por Ouro Preto, Mariana, Viçosa, Ubá, chegando a Juiz de Fora e Rio de Janeiro. A ferrovia que havia nesse trecho não há mais, o mato tomou conta, pessoas invadiram, e perdemos um belo passeio de bicicleta entre Belo Horizonte e essas cidades. Talvez uns trezentos quilômetros de pista sinuosa e entre montanhas, que poderiam ser percorridos em uns cinco dias.


Chegamos a Neufchâtel-en-Bray por volta de dezoito horas, procuramos por um hotel marcado no livro/mapa de La Avenue Verte. Um estava fechado, outro estava cheio. Uma senhora mal educada nos recebeu, pedimos informação de outro hotel, e ela disse: - no centro da cidade, talvez, eu não sei de nada, eu me ocupo da vida dos outros e não da vida dos outros. – Silenciamo-nos e fomos procurar outro hotel. Encontramos rapidamente, chegando ao centro da cidade, o Hôtel de Grand Cerf (http://www.hotel-grandcerf.fr/), com uma inscrição na porta: “ciclistas benvindos”, em francês e em inglês, com estacionamento para bicicletas, torneira e mangueira para lavá-las e o gerente nem nos pediu documentos. Tivemos um quarto para três com muito espaço, água quente, sabonete líquido, secador de cabelos (que no caso serviu de secador de nossas roupas), restaurante no próprio hotel (excelente cozinha da terra) e café da manhã reforçado. E tudo isso por cento e setenta e um euros para os três, mais a gentileza das pessoas, tanto os que trabalhavam quanto os outros hóspedes, isso não tem preço. E todos ficavam curiosos em perguntar o que três brasileiros, montados em bicicletas, faziam por ali.







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