Conhecer, saber, informar-se, compreender, entender, capacitar-se, habilitar-se: são muitas as nuances do aprendizado e muitos verbos com significados próximos, e diferentes, sobre essas nuances. Lembrei-me de um artigo que li em uma revista científica francesa sobre a cultura indígena: afirmava que tribos amazonenses têm trinta e duas palavras diferentes para distinguir diversos tons de verde. Contei isso para uma amiga chinesa, como quem conta vantagens, ela me disse que os povos habitantes dos desertos gelados do norte da China também têm trinta e duas palavras diferentes para distinguir os diversos tons de branco. Chamou-nos atenção o fato de o número ser o mesmo: trinta e duas palavras. Trinta e dois tons de cores, para as diversas cores? Existiriam trinta e duas palavras diferentes para distinguir “tonalidades” de conhecimento? Iniciemos uma lista. Sete palavras já foram escritas no início desta crônica, quem quiser ajudar a fazer crescer a lista enviem-nos as palavras, com seus significados. Eu já passei por vários desses estágios e, recentemente, acrescentei uma palavra por minha conta e risco: ressignificar, palavra que o dicionário online de meu editor de texto se recusa a validar. Preciso ressignificar isso.
Mas o que seria ressignificar? O conhecimento é como uma
bola de neve montanha abaixo: vai crescendo à medida que a bola rola. Vai se
acumulando, se acrescentando aqui e ali. Todas as teorias do conhecimento, de
Rousseau a Paulo Freire, passando por Piaget, Vigotsky, Vallon e Maturana, são
unânimes em dizer que conhecimento não brota em árvores. É preciso conhecer e
reconhecer para conhecer mais. É preciso ter conhecimentos prévios para se
apropriar de conhecimentos novos, para que esses tenham
significados. Essa é a base, por exemplo, da Aprendizagem Significativa, de
Ausubel. E ressignificar? O que seria uma Aprendizagem Ressignificativa?
Arrisco dizer que ressignificar conhecimentos é tirar lições
positivas de conhecimentos acumulados mesmo que a experiência inicial em sua
primeira, ou anterior, apropriação tenha sido negativa. Ressignificar é
eliminar traumas transformando-os em lições de vida. Ressignificar é aumentar a
bola de neve e ver seu potencial de energia crescente à medida que desce o
morro, levando conhecimento transformador e não destruidor.
Ernest Heminguay perdeu os originais de seu romance em um
naufrágio no Mediterrâneo e foi para Paris choramingar com Gertrude Stein. A
escritora americana deu-lhe o melhor conselho que poderia dar: - “Escreva de
novo, certamente sairá melhor”. “Por Quem os Sinos Dobram” não é apenas,
provavelmente, melhor que os originais afogados. É uma obra prima, merecedora
do Nobel. Isso é ressignificar. Transformar o conhecimento, ou qualquer outra
das trinta e duas palavras (considerando que teremos trinta e duas palavras
para isso), em novo (mais positivo, melhor?) conhecimento.
Excelente, Paulo! Ultimamente essa palavra "resignificar" está a ser uma necessidade eu diria até mesmo de sobrevivência. Na verdade sempre foi, mas como ela toma força a medida que os anos passam. O exemplo de Heminguay é um tratado de reflexão.
ResponderExcluirObrigado, Leandro. Ressignifiquemos nossa história. É assim que deixaremos um legado.
ExcluirAcredito que quando encontrarmos trinta e duas palavras, ou formas de se olhar por diferentes ângulos para cada acontecimento em nossas vidas que precisa ser ressignificado, certamente já estaremos como uma avalanche de neve, com a força capaz de superar muito além do inverno das estações de nossas almas! Excelente crônica, Paulo!
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