Neide me escrevia cartas quando eu morava na França. Era ótimo chegar em casa e encontrar cartas na caixa do correio (La Poste, lá): cartas dos familiares, carta de amigos e carta da Neide. Era especial. Porque ela me contava de sua vida e sempre me perguntava sobre mim, mas sobre minhas verdades. Neide era atleta, praticava um esporte do agrado dos mineiros: peteca. Tinha, por isso, as mãos grossas e calejadas. Sempre que podia eu a acompanhava em alguns jogos. Aprendi esse esporte com ela.
Em uma vinda ao Brasil, naquele período de vida na França, a
visitei em sua casa. Estava triste e sozinha. Seu marido havia arrumado outra
pessoa para dividir sua vida e isso a magoara. Ela não sabia o que fazer com
aquela novidade e sofria. Curioso é que eu não conhecia ninguém de sua família.
Havíamo-nos conhecido no trabalho e ficamos amigos, assim, sem mais nem menos.
Nos encontrávamos para um cafezinho, uma conversa sem compromisso e para eu
assistir seus jogos de peteca. Chegou a ser campeã municipal e estadual em sua
categoria.
Um dia parei de receber suas cartas, e as minhas foram
devolvidas. Que poderia ter acontecido? Em minha volta ao Brasil a procurei
pelos caminhos onde pisamos juntos e ninguém sabia dela. Desaparecera sem
deixar pegadas que eu pudesse encontrar. Algum tempo depois, uns anos depois
para ser correto, encontrei, ao acaso, uma pessoa que trabalhara conosco no
mesmo local onde nos conhecemos e que era sua amiga. Perguntei por ela e a
resposta, surpresa, foi: — Neide faleceu, de câncer. E vocês eram tão amigos,
como não soube?
Ela não quis que eu soubesse. Por isso publico esta crônica/carta.
Minha primeira carta a ser mostrada no novo espaço (#aindaescrevocartas[i])
seria para ela. Vinte anos depois. Como não conhecemos os endereços de nossos
queridos que se foram, impossível enviar uma carta. Penso também que lá não
deva ter uma agência dos correios e a correspondência deve ser por pensamento,
telepatia, algo assim. Se for assim, então, carta enviada.
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