terça-feira, 23 de maio de 2023

O PARAÍSO DAS RÃS NÃO EXISTE MAIS

O Paraíso das Rãs da Ilha de Chatou, onde Pierre Augusto e Oscar Cláudio passaram um verão pintando suas telas impressionistas, não existe mais. Uma barragem construída no rio para facilitar a navegação fluvial a inundou totalmente anos depois da passagem dos dois amigos com suas telas, pinceis e tintas. Pelo menos eles não estavam mais neste mundo para lamentar a triste invasão industrial. Apesar disso, registramos aqui nossa impressão, em uma narrativa provavelmente nada impressionista, sobre aquele momento.

Pierre Augusto e Oscar Cláudio já eram pintores mais ou menos conhecidos em Paris. Já haviam montado uma exposição com outros dois amigos que conheceram nas aulas de pintura do professor Carlos. A exposição foi um fracasso total, mas marcou, no entanto, a entrada em cena de um tipo de pintura que detonava com os princípios básicos da arte defendidos pela academia. Isso os colocou em cena, não o suficiente, no entanto, para manter a sobrevivência se não fosse os apoios financeiros dos amigos e os retratos de algumas pessoas ricas que achavam interessante ter um retrato diferente em suas paredes.

No verão daquele ano do século dezenove, os dois amigos juntaram suas telas em branco e demais apetrechos do ofício e se mandaram para a Ilha de Chatou, com o único propósito de pintar o que vissem, de registrar a impressão, de cada um dos dois, daquele cenário de muito sol, calor, dias longos e alegria.

A paisagem era o alvo. O máximo de interferência era uma pessoa, uma modelo, colocada na paisagem para ser adicionada ao quadro. Para Pierre Augusto essa modelo era ninguém menos que sua namorada, Aline, mais tarde sua esposa e mãe de seus filhos. O local, conhecido como Paraíso das Rãs, local marcado pelo coaxar dos anfíbios anuros.

Os dois amigos passavam o dia pintando. Às vezes pintavam o mesmo lugar duas vezes, com as linhas tênues e desfocadas, marca registrada das impressões que faziam. Pintavam em dois horários diferentes, só para registrarem as diferentes nuances da iluminação. Às vezes pintavam um quadro ao lado do outro, ao mesmo tempo. E assim inventaram a impressão panorâmica, bem antes da fotografia.

O almoço era sempre no mesmo restaurante. Ficaram amigos do proprietário e dos frequentadores contumazes naquela época do ano. A diversão no balneário era o banho de rio e o remo, por isso o restaurante ficou conhecido também como Bistrô dos Remadores.

Para deixar o registro ao mundo, a impressão daquele momento com os amigos, Pierre Augusto retratou a mesa do almoço, com a presença de Aline e seu cãozinho, do dono do restaurante em sua pose clássica de observador do local, com seu chapéu amarelo, além de outros amigos. Oscar Cláudio, pintando em outro local e registrando outro ponto de vista, não aparece na cena. Ao fundo se vê os barcos a vela, naquele Paraíso das Rãs, que o futuro lançamento do esgoto do norte e noroeste parisiense, mais a inundação provocada pela barragem, fizeram desaparecer totalmente da paisagem.

Mas, o registro do momento, da paisagem, do modo de vida de todos à época, ficou nos quadros pintados tanto por Pierre Augusto como por Oscar Cláudio. Em especial, o Almoço em La Grenouillère, ou Almoço dos Barqueiros se encontra em Whashinton, USA, no museu conhecido como “The Phillips Collection”. Pierre Augusto, que começou como pintor de pratos de porcelanas e em seguida imitador de obras vistas naquele museu perto de sua casa, o Louvre, deixou sua obra em grandes museus do mundo. Morreu pobre, como muitos artistas, mas mudou a história da arte no planeta Terra.

 

OBS: Quem quiser saber mais sobre as obras de Pierre-Auguste Renoir e Oscar-Claude Monet a Internet tem páginas, sítios e portais totalmente dedicados aos dois. Já Claude Monet conseguiu deixar grande parte de sua obra em um espaço-museu com seu nome em Giverny, a Fundação Claude Monet.

 

Pierre Auguste

Impressiona o mundo

No paraíso das rãs. 

 

 

 

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