O Paraíso das Rãs da Ilha de Chatou, onde Pierre Augusto e Oscar
Cláudio passaram um verão pintando suas telas impressionistas, não existe mais.
Uma barragem construída no rio para facilitar a navegação fluvial a inundou
totalmente anos depois da passagem dos dois amigos com suas telas, pinceis e
tintas. Pelo menos eles não estavam mais neste mundo para lamentar a triste
invasão industrial. Apesar disso, registramos aqui nossa impressão, em uma narrativa
provavelmente nada impressionista, sobre aquele momento.
Pierre Augusto e Oscar Cláudio já eram pintores mais ou menos
conhecidos em Paris. Já haviam montado uma exposição com outros dois amigos que
conheceram nas aulas de pintura do professor Carlos. A exposição foi um
fracasso total, mas marcou, no entanto, a entrada em cena de um tipo de pintura
que detonava com os princípios básicos da arte defendidos pela academia. Isso
os colocou em cena, não o suficiente, no entanto, para manter a sobrevivência
se não fosse os apoios financeiros dos amigos e os retratos de algumas pessoas
ricas que achavam interessante ter um retrato diferente em suas paredes.
No verão daquele ano do século dezenove, os dois amigos
juntaram suas telas em branco e demais apetrechos do ofício e se mandaram para
a Ilha de Chatou, com o único propósito de pintar o que vissem, de registrar a
impressão, de cada um dos dois, daquele cenário de muito sol, calor, dias
longos e alegria.
A paisagem era o alvo. O máximo de interferência era uma
pessoa, uma modelo, colocada na paisagem para ser adicionada ao quadro. Para
Pierre Augusto essa modelo era ninguém menos que sua namorada, Aline, mais
tarde sua esposa e mãe de seus filhos. O local, conhecido como Paraíso das Rãs,
local marcado pelo coaxar dos anfíbios anuros.
Os dois amigos passavam o dia pintando. Às vezes pintavam o
mesmo lugar duas vezes, com as linhas tênues e desfocadas, marca registrada das
impressões que faziam. Pintavam em dois horários diferentes, só para
registrarem as diferentes nuances da iluminação. Às vezes pintavam um quadro ao
lado do outro, ao mesmo tempo. E assim inventaram a impressão panorâmica, bem
antes da fotografia.
O almoço era sempre no mesmo restaurante. Ficaram amigos do
proprietário e dos frequentadores contumazes naquela época do ano. A diversão no
balneário era o banho de rio e o remo, por isso o restaurante ficou conhecido
também como Bistrô dos Remadores.
Para deixar o registro ao mundo, a impressão daquele momento
com os amigos, Pierre Augusto retratou a mesa do almoço, com a presença de
Aline e seu cãozinho, do dono do restaurante em sua pose clássica de observador
do local, com seu chapéu amarelo, além de outros amigos. Oscar Cláudio,
pintando em outro local e registrando outro ponto de vista, não aparece na
cena. Ao fundo se vê os barcos a vela, naquele Paraíso das Rãs, que o futuro
lançamento do esgoto do norte e noroeste parisiense, mais a inundação provocada
pela barragem, fizeram desaparecer totalmente da paisagem.
Mas, o registro do momento, da paisagem, do modo de vida de
todos à época, ficou nos quadros pintados tanto por Pierre Augusto como por
Oscar Cláudio. Em especial, o Almoço em La Grenouillère, ou Almoço dos
Barqueiros se encontra em Whashinton, USA, no museu conhecido como “The Phillips Collection”. Pierre Augusto, que começou como pintor de pratos
de porcelanas e em seguida imitador de obras vistas naquele museu perto de sua
casa, o Louvre, deixou sua obra em grandes museus do mundo. Morreu pobre, como
muitos artistas, mas mudou a história da arte no planeta Terra.
OBS: Quem quiser saber mais sobre as obras de Pierre-Auguste
Renoir e Oscar-Claude Monet a Internet tem páginas, sítios e portais totalmente
dedicados aos dois. Já Claude Monet conseguiu deixar grande parte de sua obra
em um espaço-museu com seu nome em Giverny, a Fundação Claude Monet.
Pierre Auguste
Impressiona o mundo
No paraíso das rãs.
Nenhum comentário:
Postar um comentário