terça-feira, 1 de outubro de 2019

AUTOBIOGRAFIA DE UM HOMEM VULNERÁVEL XXXIV


Um dos exercícios que preciso fazer para eliminar certas crenças enraizadas em meus pensamentos íntimos e negativos é afirmar constantemente os meus resultados adquiridos na vida, as coisas que eu construí durante a minha existência para ter sempre a certeza de que eu sou capaz, eu sou poderoso, eu sou o máximo. Sim, eu sou capaz, eu sou poderoso, eu sou o máximo. Por isso, uso este espaço de minha autobiografia desautorizada para autorizar-me (apenas eu tenho o poder de fazer isso) a relatar as grandes e boas coisas que fiz na vida e dizer ao mundo: eu tenho a força; a força está comigo, eu tenho o poder, eu sou o máximo. Porque realizei grandes coisas. O relato a seguir não é apenas uma lista de realizações, mais que isso, é uma reverência a meus fazeres.

Hoje eu sei que o grande poder das realizações está nas ações. Parece redundância [realiza + ações]. E ações estão ligadas aos afazeres, ao “levanta da cadeira e vá fazer alguma coisa”. Sempre fui mais parado que o necessário, mesmo assim fiz grandes coisas. Quando garoto ainda eu trabalhei em uma lavoura junto com meu pai. Arrendamos um terreno brejoso próximo a nossa casa e fomos plantar. Era um vale com um grande brejo no meio, mas vimos que a água era de nascente no local e de boa qualidade. Então fizemos um canal para escoamento da água para um córrego vizinho com uma tampa que nos permitia barrar o fluxo de água, formando uma pequena represa, o que nos garantia água pura e em quantidade suficiente para regar nossa plantação. E ali plantamos inhame, mandioca, beterraba, cenoura, batata baroa, e outros legumes. No quintal de nossa casa plantávamos verduras e tomates. Com isso tínhamos sempre o que complementar o arroz, o feijão e o macarrão de todo dia. E crescemos fortes e saudáveis. A venda dos produtos na rua nos aportava um dinheiro a mais que garantia as compras de roupas, sapatos e cadernos para os estudos. Essa foi minha primeira grande realização.

Na escola eu me garantia e tinha ótimas notas. Era conhecido como aluno inteligente e com isso fiz alguns amigos que se interessavam por mim. Outros, é claro, só queriam que eu lhes passasse cola nas provas. Foi minha inteligência, entretanto, que me fez crescer na vida e passar no vestibular de Física antes de completar dezoito anos. Meu segundo grande feito foi fazer uma faculdade no tempo certo, trabalhando, sem receber um tostão dos pais. Tive minha independência aos dezoito anos. E o trabalho sempre bateu à minha porta. O estudo definiu minha profissão: professor desde os dezoito anos. E passei nos concursos que fiz: professor na Universidade Federal de Viçosa em mil novecentos e setenta e oito; aluno do mestrado em mil novecentos e oitenta e um; professor na PUCMG em mil novecentos e oitenta e sete; professor na Universidade Federal de São João del Rei em mil novecentos e oitenta e nove; professor no CEFETMG em mil novecentos e noventa e três; aluno de doutorado na Universidade de Paris XI em mil novecentos e noventa e seis e na Universidade de Borgonha em dois mil, doutorando-me em dois mil e um. Sou doutor e doutorei-me com louvor. Uma grande plateia veio assistir à minha defesa de tese. Grandes realizações.

Como professor eu ajudei a formar muita gente. Não tenho a conta de quantos alunos eu tive na vida. Foram quarenta anos de magistério, com uns duzentos alunos por ano, em média, somando oito mil alunos, no mínimo (penso que avalio por baixo). Entre eles, tive uns cem alunos de especialização, outros tantos de mestrado, dos quais orientei vinte e cinco, e participei de cinquenta e uma bancas de mestrado e doutorado. Nos cursos técnicos, de graduação e pós devo ter orientado uns mil projetos diferentes. É ou não é um grande somatório de realizações?

Nos trabalhos de consultoria eu também ajudei bastante a muitas pessoas, escolas e secretarias de educação. A minha participação em projetos do CAED de Juiz de Fora foi muito profícua, permitiu-me aprofundar em questões curriculares importantes que hoje são afirmações de políticas públicas na educação. Publiquei uma dezena de artigos, escrevi uma dissertação de mestrado, uma tese de doutorado, publiquei três livros. E hoje trabalho como consultor e editor. Como coach já ajudei uma dezena de pessoas a realizarem seus desejos de crescimento.

Na vida pessoal, eu não posso me gabar tanto, mas tive dois filhos, cuidei de outros dois, construí uma casa de duzentos e cinquenta metros quadrados, onde morei por quinze anos, e tenho ainda um apartamento de oitenta metros quadrados em um local valorizado. Tinha uma esposa de temperamento difícil, mas que gostava de mim. Separamos, mas isso é outra história. Mais culpa minha que dela, fui negligente no casamento. Tenho muitos amigos queridos e várias pessoas me acompanham nas redes sociais. Posso afirmar, com certeza, que realizei muito.

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