Hoje o dia foi principalmente
libidinoso. Ao acordar e durante a sesta fizemos amor, eu e ela, lógico. Foi
avassalador o tesão nos dois momentos. Parece que a diversão sexual nos
fortalece, nos mantém lúcidos neste período de loucura virótica. As pessoas têm
medo de contrair um vírus, mais medo ainda de transmiti-lo para seus familiares
mais idosos e estes morrerem. Oitenta por cento dos mortos pelo covid-19 está
na categoria de mais de sessenta anos e com algum problema de saúde anterior. E
o número de mortos cresce no Brasil e no mundo.
Mas nós criamos uma espécie de capa protetora, com a cumplicidade
amorosa entre nós. Fazemos sexo, cuidamos um do outro, fazemos nossa comida e
ficamos em casa a maior parte do tempo. Durante a semana, hoje é sábado, saímos
poucas vezes. E sempre para dar uma caminhada ou fazer compras nos
supermercados com cuidado e proteção. A vida é muito louca.
Saí pela manhã para comprar algumas
coisas no supermercado e abastecer nossa geladeira e despensa de alimentos. E
também para comprar algumas coisas inusitadas: pregos para fazer uma obra de
madeira para decoração da casa, cola para colar peças de madeira e lixa para
deixar as madeiras lisinhas e sem farpas que nos machuque as mãos. Estou
pegando paletes usados pelas transportadoras, paletes jogados fora por alguma
razão, e usando suas tábuas para construir um suporte para flores, ou um coxo
para dar comida aos pássaros, ou uma casinha de cachorro, coisas assim. Na loja
de material de construção o atendimento foi bem profissional e o atendente
pegou o material solicitado para me entregar e depois passou álcool em minhas
mãos e nas dele. Ele me disse ter imunidade baixa e, portanto, corre riscos. No
supermercado os cuidados dos funcionários são bem menores. Eles disponibilizam
álcool a todos, mas poucos usam máscaras e luvas e nem se importam em manter
distância uns dos outros e dos compradores. Os compradores estavam mais
cuidadosos.
Uma vez em casa seguimos o ritual de
desinfecção: tiramos os sapatos, lavamos os objetos comprados, lavamos as mãos
e o rosto, passamos álcool. E como temos tido pouco contato com pessoas,
pensamos não estar correndo grandes riscos. O almoço tem sido leve, comemos o
suficiente, quase não comemos carnes. Antes do almoço, claro, uma bebida
alcoólica, em pequena quantidade. Hoje eu tomei uma dose de cachaça e dividi
uma lata de cerveja, 500ml, com minha mulher. Apenas isso.
À tarde fomos dar uma caminhada. De
casa à Praça dos Quatro Elementos, ida e volta, são uns quatro quilômetros. E
lá na praça nos sentamos e fizemos uma meditação de mais ou menos meia hora.
Isso nos deixa leves e relaxados. Meu método de meditação é fazer o exercício
de respiração que faço para chegar ao transe leve: respiração lenta e profunda,
enchendo e esvaziando o abdômen, e pensando apenas na respiração e pronunciando
algumas palavras, como uma mantra, que nos faz pensar que estamos inspirando
coisas boas e expirando nossas mazelas. Na volta paramos na peixaria e
compramos peixe e camarão para o almoço de amanhã, que será minha
responsabilidade.
Além de tudo colocado acima fiz
também a leitura de parte de dois textos: dois livros que estou lendo. Um como
produtor de texto, que é um trabalho de leitura intensiva, catando problemas de
redação e de coerência do texto. Outro como leitor beta, que é aquele leitor
que acompanha o trabalho do escritor no momento em que ele escreve para lhe
dizer se alguma coisa não está legal. Ou se pode melhorar.
Mas o que me preocupa é o fato de que
o corona vírus estar mexendo com todo mundo. E as diversas formas com que ele
mexe conosco. Em minha vizinhança temos diferentes tipos: um pensa que a
quarentena é um exagero; outro que está ficando meio maluco e com medo da
contaminação. Os dois não são idosos, o primeiro com sessenta anos e o segundo
com cinquenta e três. E os dois são bolsonaristas ferrenhos e acreditam nessa
merda que temos como presidente. E, no entanto, têm comportamentos diferentes e
contraditórios. E os dois estão sem trabalho e, provavelmente, ficarão sem
dinheiro. Eu acompanho as notícias pelos sítios de notícias na internet e no
rádio. Estou mais preocupado com a conjuntura do país e com a despreocupação
das pessoas, o que pode colocar em risco os outros, que com a situação
econômica. Esta se arranja depois que o risco de contaminação passar. Sempre
daremos um jeito. Sigamos, então.
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