Acordei cedo, quase oito
horas, com o telefone tocando. Era minha irmã Ciça. Atendo porque telefonemas
de irmãos sempre podem trazer alguma notícia inesperada, é aquela mania que a
gente tem de pensar que notícia ruim chega bem cedo. E ela tem um filho que
trabalha em um hospital, situação de risco em tempos de pandemia. Ela diz que
não, pois ele chega e tira as roupas assim que sai do carro e já entra pelado
em casa e vai direto para o banho. E suas roupas vão direto para a máquina de
lavar. Ok. O que seria então? Cortinas. Ela queria saber sobre cortinas. E
assim começo o dia.
Volto para a cama encontro
a mulher acordada e sorridente. Começamos uma brincadeira de quase todas as
manhãs: conversas, carinho, abraços, coisas e tal, antes de levantarmos e irmos
para a cozinha fazer o café. Que hoje foi acompanhado de pão integral, queijo
do tipo cottage e pasta de amendoim com óleo de coco e canela. Bem alimentados
estamos.
Fui para o computador e
começo a ler mensagens no WhatsApp e no Facebook. Sou surpreendido com um filme
do Rafael Catatal, editado pelo meu querido amigo Raul Sampaio, com trechos do
Caminho do Sertão. Fiz o Caminho do Sertão em julho de 2019 e até hoje o sertão
não saiu de dentro de mim, e nem vai sair. Ele se instalou em mim como
carrapicho, mas um carrapicho que gruda na alma e não sai de jeito nenhum. O
filme em si é uma edição de 8 minutos de muitas horas que o Rafael fez durante
os nove dias que foi o Caminho: sete dias de caminhada mais o dia antes e o dia
depois. Foi uma experiência maravilhosa contada no livro Diálogos do Ser-Tão,
da Rolimã Editora. Parei, claro, para ver o filme e agora estou aqui escrevendo
sobre isso e sentindo na pele todas aquelas maravilhosas lembranças do feito.
Sem mais palavras.
O filme me tocou tanto
que não consegui, por um tempo, fazer mais nada. Aquele caminho foi um marco em
minha vida e, pelo que posso perceber nos depoimentos dos colegas, foi um marco
na vida deles também. Somos outras pessoas, temos outras percepções das coisas,
novos sentimentos, além de novos amigos. Eu gostaria de encontrá-los mais
vezes, e o faríamos não fosse a pandemia. Que merda. Minha coleção de afetos estando
trancada a várias chaves, eu querendo exibi-la para os queridos e não consigo.
Não posso sair de casa. Pena. Mas, depois dessa, colocaremos os afetos em dia.
Depois veio o almoço. Ela
capricha sem demora e sem muitos rodeios nem devaneios na hora de preparar o
rango. Comemos bem e leve. Arroz, feijão e um suflê de cenoura: cenouras,
cebolas, ovos e queijo, além de temperos saborosos. E uma salada bem rica, bem
condimentada, apimentada. Uma delícia. Fizemos um teste de filmagem na cozinha
durante o preparo. Vamos colocar no ar, de novo, o canal You Tube da Gurgelita,
uma vedete da cozinha com receitas saborosas e simples. Aguardem para breve.
Também conversei com Ana,
minha futura autora, sobre uma apresentação ao vivo que ela quer fazer na
quinta-feira e conta com minha presença e ajuda. Ela vai falar sobre o livro do
Depaak Chopra, A Cura Quântica, e ela quer minha ajuda pois não quer embarcar
em uma canoa furada. O livro fala sobre a cura baseada em medicinas indianas e
alternativas, em que a cura é um construto da mente. Sim, pode ser, acredito que
a fé ajuda bastante, temos muitos exemplos disso pelo mundo afora e todos temos
um caso, pelo menos, em nossos círculos familiares e de amigos. Mas daí chamar
o processo de quântico há uma distância enorme. Vou ler mais alguma coisa amanhã
para participar da videoconferência na quinta-feira.
À tarde, voltei a
assistir mais um episódio da série Altered Carbon, uma série futurista bem
tensa e cheia de aventuras e lutas e busca de valores. Lutas entre o bem e o mal
não são novidades, a questão é que, na série, quem é o bem e quem é o mal é uma
dúvida complicada. Mas o filme tem tiradas filosóficas ótimas, alguns
personagens são verdadeiros Aristóteles e fazem declarações alucinadas, mas
cheias de verdades. Hoje ouvi de um robô que as coisas improváreis são as que
mais importam em nosso (deles) mundo conturbado. Que barato! As coisas
improváveis são as que mais importam. E que livros, nomes e carinho nos ajudam a
lembrar que, mesmo nas horas mais sombrias, a vida deve ser saboreada. Uau! A
verdade geralmente está sob a pele. Principalmente quando nossos rostos estão
protegidos por nossas máscaras. Todas as máscaras. As que nos protegem do vírus
e as que nos protegem de nós mesmos.
E hoje tivemos mais de
cem mortos, no Brasil, pelo vírus. Eu ainda penso que nossos números estão
falsos. O número pode ser bem maior. E me baseio nas informações que vejo na
própria imprensa. Ontem, por exemplo, tivemos cinquenta e poucos mortos,
segundo dados publicados pela imprensa baseados em informações oficiais. E ao
mesmo tempo, a reportagem de um canal de TV nos informa que apenas em um
cemitério de São Paulo houve vinte e sete enterros de vítimas. Percebem? Em um
único cemitério vinte e sete enterros. E apenas cinquenta e poucos mortos pelo vírus.
As contas não batem. Acreditemos, no entanto, e sigamos em frente.
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