Sempre visito a minha mãe, noventa e quatro anos. Agora menos, por causa da pandemia. Ela foi vacinada, mas eu e os outros que entram em contato com ela, ainda não. E ela mora com um neto, meu sobrinho, que, apesar dos cuidados e do trabalho em casa, sempre precisa sair, para sobreviver. Durante o dia ela tem a companhia de uma cuidadora, uma pessoa gentil que cuida dela e da casa. E à noite seu neto está com ela. E aos finais de semana tem sempre alguém lá, um dos filhos para ser exato. Minha mãe está bem. Apesar da idade, ela está bem lúcida, bem alegre. O bom humor sempre foi uma de suas características. Hoje em dia ela se lembra mais das coisas do passado mais distante, se esquece do que fez minutos atrás, faz parte da idade e também porque não podemos sair de casa. Tem um vírus lá fora matando pessoas e que nos mantém distantes dos parentes e dos amigos e de seus abraços. É este o momento que vivemos.
Eu passei em sua casa e lá fiquei durante meia hora. Ela
gostou da visita, riu bastante e ainda contou alguns pequenos casos. O diálogo
com ela, hoje em dia, tem sido de conversas curtas, ela não se lembra das
coisas, mesmo assim consegue manter uma conversação razoável porque nós sabemos
de que ela precisa. Ela precisa de carinho, de afeto. E ela vê isso em nossos
olhos. Ela vê isso em meus olhos. Não demorei porque tinha outro compromisso.
Como ela escuta pouco, não adianta telefonar para ela. Ela não entende o
telefone. De vez em quando eu ligo em vídeo com quem está com ela. Assim ela me
vê e a acompanhante traduz para ela o que eu falei. E assim se passam os dias
atuais com minha mão. E respondendo à pergunta, eu falei com ela ontem.
Com meu pai eu falei a última vez em trinta e um de dezembro
de dois mil e treze às dezenove horas e poucos minutos. Faz um tempo, não é? Eu
cheguei em sua casa por volta de dezenove horas, entrei em seu quarto e ele
estava deitado em sua cama. Quando me viu entrar sorriu para mim e pronunciou
meu nome. Eu fiquei ao lado de sua cama até as vinte e duas horas, sentado a
seu lado, olhando sua respiração até ela parar. Foi a última vez que falei com
ele. Depois desse dia eu apenas sonhei com ele uma vez. E foi só. No entanto,
ele é uma lembrança permanente em minha vida. Seu legado em mim é muito forte.
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