Vô Ventura cismou que quer ser imortal. Viu uma reportagem sobre os imortais da Academia Brasileira de Letras, em um programa de televisão. A maioria deles é muito idoso.
— Para ser imortal é preciso ser
velho? Como ainda não sou velho, creio que não será logo.
— Com setenta anos e ainda não se
considera velho, Vô?
— Ser velho não é uma questão de
idade, meu neto, é um estado de espírito. E meu espírito ainda é jovem. Demoro,
ainda, a ficar velho.
— E quando ficará velho, Vô?
— Só quando eu desanimar da vida,
meu caro. O que não acontecerá nunca.
— Então não vai morrer?
— Não precisa ficar velho para
morrer. Morrerei jovem com mais de cem anos.
— E como ficará imortal?
— Primeiro, preciso começar a
escrever e publicar os livros. Depois de algumas décadas escrevendo algumas obras
mais ou menos importantes, preciso ter amigos escritores com obras mais ou
menos importantes como as minhas, alguns deles já imortais, esperar a morte de
um deles e me candidatar à vaga de imortal deixada pelo falecido.
— Assim que se torna imortal, Vô?
— A outra maneira é deixar uma
obra muito, mas muito importante, dessas que todos comentam. Neste caso, não
será imortal, mas a sua obra sim. Viu como é simples?
— Boa sorte, Vô. Penso que já
posso começar a minha obra, então.
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