— Se Ícaro voou com asas de cera, com as tecnologias e técnicas modernas, posso voar melhor.
— Você não está muito velho para isso, não, Vô Ventura?
— Já disse uma vez, repito. Velho é o caralho de seu avô. Vou
entrar para uma aula de asa-delta, ou parapente.
Lá se foi ele praticar algumas aulas que o permitissem voar.
Ele sempre nos dizia que sempre sonhava que voava, como se fosse um
pássaro sem asas, bem ao melhor estilo super-herói. Penso que Vô Ventura
assistira muitos filmes do Super-Homem e hoje, com a demência querendo tomar
corpo, ele pensava em transformar sonhos em realidade. Penso ser culpa desses
gurus do autoconhecimento: “você pode transformar sonhos em realidade, basta
imaginar que a realidade se transforma”. Esses gurus, tanto quanto os falsos
profetas que invadem as igrejas e as redes sociais deveriam ser presos.
Não sei bem se era esse o pensamento do Vô Ventura, o que
sei é que ele marcou uma aula de parapente lá no Topo do Mundo. Chegou todo
pimpão na hora marcada, ajeitou o corpo, se encaixou na asa delta, mas ao
chegar na beira do desfiladeiro travou total, ficou mudo, sua temperatura subiu
e desceu ao mesmo tempo. Só se lembrou que tinha um enorme medo de altura
quando se borrou na hora H.
— Penso ser melhor me dedicar à espeleologia.
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