Desentendimentos com familiares sempre são desagradáveis e
pesam muito, principalmente quando você já tem mais de sessenta e acha que o
tempo de recuperação é sempre menor que antes. Pior ainda quando você acha que
tem suas razões e não adianta fazer muita coisa porque qualquer coisa que fizer
estará errado, por princípio. Principalmente quando a outra parte faz
julgamentos passionais de processos que podem ser nominados de normais e
simples. E a pressão sobe. A minha arterial hoje pulou para cento e setenta por
cento e um. Minha pressão sempre foi baixa, cento e dez por setenta, máximo de
cento e vinte por oitenta. O estresse dos últimos tempos a fez subir gradativamente
chegando a esse ápice hoje. Mudei de patamar estatístico. Cardiologista à
vista, consulta para segunda próxima.
Hora, então, de me recolher ao silêncio, de esperar que
outras luzes me iluminem, pois as atuais encontram-se um pouco ofuscadas. Hora
de me preparar para pequenas e grandes perdas, quando eu achava que ser avô
compensaria todos as demais perdas da vida, tipo um que se vai, outro que ocupa
seu lugar. Mas não é assim. A vida não é tão direta, as respostas nunca estão
na ponta da língua, as frustrações contidas nos fazem explodir. E a pressão
sobe.
O ativista ambientalista John Francis ficou dezessete anos
em silêncio, sem pronunciar uma palavra com ninguém. O dia em que resolveu
voltar a falar assustou-se com a própria voz. Não falou nem mesmo com seus
familiares e disse que aprendeu muito. Aprendeu o verdadeiro sentido da
comunicação, por exemplo. Eu não conseguiria ficar sem falar, acho a fala
fundamental, mas bem que eu gostaria de falar menos. E passo, de agora em
diante, a me empenhar para isso. Que o silêncio me regenere de alguma coisa.
Psiu.
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