Pode ser engraçado, mas parece que pessoas que falam demais ficam surdas. De tanto escutarem a própria voz deixam de ouvir os ruídos da vizinhança, os barulhos da rua, os sons do jardim. Deixam de ouvir a torneira pingando e as vozes de outras pessoas. Tenho parentes assim. Acreditam que não escutam mais, visitam otorrinos que lhes vendem aparelhos de audição bem caros e eles continuam não ouvindo. Reclamam do aparelho, trocam por outro teoricamente mais performante (e mais caro) e continuam não ouvindo. Finalmente admitem que são surdos e desistem de ouvir.
Fiz um teste com um desses parentes dias atrás. Ele estava
aflito, cheio de angústias. Eu o sentei no banco do jardim, exigi que se
calasse por cinco minutos e que respirasse fundo e devagar. À medida que ele
foi respirando pedi que fechasse os olhos e escutasse os sons do jardim. Um
sabiá e uma cambaxirra cantavam nos arvoredos não muito longe. Perguntei se ele
escutava o som dos dois pássaros, ele disse que sim. Pedi que me apontasse com
o dedo a direção de onde vinha os cantos dos dois e ele apontou corretamente.
Ele abriu os olhos e confirmou visualmente a presença dos dois pássaros e
perguntou o que eu tinha feito para ele escutar de novo pois estava sem o
aparelho auditivo. Quando eu respondi que ele não era surdo, apenas não parava
de falar e não prestava atenção no entorno, ele se surpreendeu.
Tudo que precisamos para nos encontrarmos no mundo é escutar
a nós mesmos e escutar nosso entorno. Saber onde estamos e para onde vamos.
Escutar é o mais importante sentido para aprendermos e comunicarmos com o
mundo. A boa comunicação depende de uma boa escuta mútua.
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