Meus olhos estavam vendados com uma tarja negra. Fui
conduzido a colocar as mãos nos ombros de uma pessoa, confiar nela e segui-la.
Coloquei as mãos em ombros macios indicadores de uma mulher alta e volumosa,
mas nem tanto. De início, a sensação de caminhar no escuro seguindo alguém,
como um cego, foi muito estranha. Depois me acostumei. Principalmente porque
haviam pessoas nos guiando nos degraus e nos obstáculos. A pessoa em minha
frente se portou como uma parceira. Ela também tinha seus olhos vendados e segurava
os ombros de outra pessoa à sua frente. E aparava uma de minhas mãos para que
eu não me desconectasse dela. Em meus ombros pousavam duas mãos de alguém que
apenas identifiquei como sendo do sexo masculino pelo seu hálito, porque suas
mãos eram delicadas sem ser femininas. Depois de uma volta pelo jardim (senti a
grama nos pés) fomos introduzidos em uma sala onde tocava uma música suave e
uma voz nos comandava para caminhar pela sala até encontrar uma outra pessoa,
tocá-la, abraçá-la e falar em seu ouvido: o que procura e quais são seus medos?
A pessoa que eu encontrei era uma mulher, cheinha de corpo, gostosa de abraçar,
voz alegre e dissemos um para o outro que não tínhamos medo.
Em seguida nos desconectamos,
procuramos uma segunda pessoa e repetimos o processo. Agora era uma mulher
pequena e magra, também gostosa de abraçar. Depois uma terceira pessoa, desta
vez um homem forte. E já quebrei um paradigma na primeira noite. Abraçar um
homem desconhecido com carinho de velho amigo, mas ele se mostrava tão
disponível que venci meu machismo na hora! Uma mulher também vendada se
aproximou de nós e nos abraçou. Ficamos os três ali, em silêncio e abraçados
até que fomos orientados a tirar nossas vendas e nos conhecermos. Algo muito
estranho aconteceu. Aquele abraço de olhos vendados nos aproximou a todos. Quem
seriam as duas primeiras pessoas? Isso nos torna cúmplices de todos
imediatamente. Corri os olhos pela sala, após retirarmos as vendas e não
identifiquei as duas mulheres que me abraçaram. Só tempos depois, com outros
abraços (abraços tornaram-se linguagens), consegui identificar as lindas
mulheres, agora amigas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário