Eu estava em uma praia pequena e deserta. Não era uma praia
deserta, ela estava deserta naquele momento. O céu azul sem nuvens e o sol
claro indicavam uma bela manhã que provavelmente se aqueceria, mais,
provavelmente ficaria bem quente horas depois. Era manhãzinha e a brisa fresca
soprando permitia sentir agradavelmente aquele clima. Eu ouvia uma voz feminina
quente e doce tão próxima de mim, parecia falar dentro de meu cérebro, ou faria
parte de meus pensamentos e eu ainda desconhecia. Nem sei se havia uma voz de
fato, ou se aquela voz pertencia a meu inconsciente naquele momento. Mas ela me
dizia para caminhar na areia e sentir meus pés afundando. Posteriormente aquela
voz me induziu a entrar no mar, e sentir a água do mar, morna, subindo pelas
minhas pernas e molhando todo o meu corpo. Convidou-me para um mergulho. Como sabia
que eu adoro mergulhar, que sou bicho da água, espécie de anfíbio moderno.
Achei o convite interessante e fui cada vez mais fundo no mar.
Golfinhos apareceram. Pareciam dançar na minha frente.
Pareciam me convidar para uma dança. Entrei naquela valsa oceânica e dancei com
eles. A voz em meu inconsciente me dizia: dance, dance, deixe-se levar. E eu
deixei-me levar. Os golfinhos pareciam conversar comigo, avoz agora era deles:
o que queres? Que mensagem quer que levemos ao rei dos mares? Que mensagem queres
receber do rei dos mares? E eu pedi que levassem meu pai com eles, que o
levassem em paz, para dançar com eles. Sim, meu pai adora dançar e, agora, em
sua cadeira de rodas, ele não dança mais. No fundo do mar, na dança dos
golfinhos, ele dançaria, ele flutuaria no mar sem sua cadeira de rodas. Seria
bonito ver meu pai dançar mais uma vez. E eu vi. Ele estava lá, dançando como
antes.
Foi então que ouvi a voz me dizer: volte, você está no mar,
no fundo do mar e precisa voltar à terra. Eu voltei. Saí da água e chorei de
alívio, de alegria por ver meu pai dançar sorrindo com os golfinhos. Eu o
deixei lá, feliz. A voz se calou. E voltei para terra. Sem meu pai.
Nenhum comentário:
Postar um comentário