Parece redundância afirmar que dormir bem faz um bem danado para a saúde. Somos metralhados com informações diárias de que precisamos dormir oito horas por noite e, simultaneamente, bombardeados com tentações midiáticas nos convidando a ficar acordados. Os melhores programas na televisão passam mais tarde, as boas conversas esticam-se até altas horas, a família quer trocar ideias justo na hora do sono, as informações dos grupos de WhatsApp ficam mais interessantes à noite. Ou é hora daquele silêncio gostoso que não se fez o dia inteiro. Como resistir?
Eu, particularmente, não sou um bom exemplo de pessoa
obediente, aquele que passa oito horas na cama todas as noites. Não consigo.
Faz parte de meu histórico de vida. Acostumei com as seis horas de sono desde jovem.
Primeiro, porque trabalhava muito. Desde criança. Com a casa cheia, muitos
irmãos dormindo no mesmo quarto, cada um com horário biológico diferente,
dormir oito horas era um privilégio de poucos.
Aos quinze anos comecei a estudar à noite, horário possível
para fazer o Ensino Médio (com outro nome na época). Aula até dez e trinta,
quarenta minutos de caminhada até em casa, lanche, banho e cama. Ou seja,
dormir, só à meia-noite. Seis da manhã os manos acordavam para ir à escola e eu
tinha um dia de trabalho na lavoura para ter comida farta à mesa, pois a
família era grande. Sem direito à insônia, nem ao cochilo após o almoço.
Resumindo: penso que nunca dormi oito horas por noite. Nem
hoje, quando sou o dono de meu próprio tempo. No entanto, não me sinto
prejudicado por isso. Acordo feliz e satisfeito, animado, faço meu café e
escrevo. É a melhor hora do dia para escrever produtivamente. A rua é
silenciosa, as galinhas do vizinho me acordam e depois ficam em silêncio, os
vizinhos são silenciosos e o sino da igreja ainda não badalou a essa hora. A
temperatura está amena, com o sol brilhando ainda foscamente. Como não
aproveitar esse momento de calma e solidão?
Apesar dos apelos colocados acima, não vou para a cama tão
tarde. Não gosto de ver TV (só quando tem jogo do Galo), apago cedo a tela do
computador, desligo o telefone portátil e pego um livro para ler. Fecho o livro
quando a Madame Ventura chega à cama, porque aí, meu amigo, tenho alguns
momentos de puro prazer. A idade ainda não apagou minha libido. Continuo
dormindo entre onze horas e meia-noite. Às seis horas da matina acordo, às seis
e meia já estou na cozinha fazendo o café, após mandar o cão e o gato para
o quintal. Café pronto, primeiro gole na goela, assumo a posição em que estou agora
(sentado á frente do computador). Madame Ventura acorda e vamos para a mesa do
café (geralmente já com a crônica escrita). Aí o dia começa.
Faço tudo que os especialistas em sono afirmam que deve ser
feito pelo cidadão saudável para viver bem e dormir bem quando a noite voltar:
meditação, atividade física, boa alimentação (leve e rica), bons hábitos, nunca
fumei, só uma cachacinha antes do almoço ou da janta, música nos ouvidos, vida
sem estresse, conversa com os amigos, trabalho e diversão na medida certa. E
agradeço muito ao universo por todas essas possibilidades. Recomendo a todos,
principalmente às pessoas antigas, que sigam esse menu de boas ações para
dormir bem e ter boa noite de sono.
Alguns dias atrás fiquei bem satisfeito quando um desses
especialistas em sono afirmou, em um canal da Internet, que seis horas dormindo
é o tempo mínimo para um bom sono. Então, estou na margem de boas
práticas para ter uma vida saudável. Não estou tão fora da regra, como pensava
antes.
Então, durmam bem, cada um dentro de suas possibilidades.
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