Minha mãe mesmo conta. Quando jovem, terminou o namoro com um jovem negro porque, segundo ela, não queria ter filhos com o cabelo pixaim. Casou-se com um jovem de pele clara e teve filhos de cabelo pixaim. Alguns de pele mais clara e outros de pele que costumamos chamar de parda. Eu, primeiro filho, já exibi seu engano logo ao nascer: tenho pele parda e cabelo pixaim.
Além da pele parda e cabelo pixaim, tenho cabeça grande e
sou inteligente. Ganhava boas notas, as melhores da classe. E meu pai me
colocou para estudar em escola privada de uma cidade de interior. Eu nunca
consegui interagir com os colegas. Pior, um colega que sentava ao meu lado, bem
maior que eu, me enchia de porrada se eu não passasse cola para ele, nas provas
de Matemática. E esse cara se tornou jornalista e editor do principal jornal de
Minas Gerais. O que posso esperar da imprensa no Brasil?
Mas, não é de mim que quero comentar aqui. O tema é o
racismo e o sonho de ver o país livre do racismo. Tem sonho mais utópico que
esse? Tenho uma sobrinha preta, hoje com trinta e poucos anos, linda,
trabalhadora, engraçada. Na própria família, cheia de cabelos pixaim, se escuta
a famosa frase: - que preta linda! Ou ainda, é preta, mas é linda! A frase não
poderia ser substituída apenas por: - que mulher linda? E quando eu aparecia com
uma namorada preta, sempre ouvia: - você gosta de uma preta, hein? E eu respondia.
– Eu gosto de mulher, cara. A cor não importa.
O fim do racismo precisa começar nessas pequenas manifestações
nas relações domésticas. Enquanto nos circuitos familiares as pessoas pretas e
pardas não deixarem de ser notadas e discriminadas por particularidades como
cor da pele não poderemos falar que aqui não tem racismo. Todos os pretos,
pardos, amarelos e indígenas sonham com esse dia. Um dia ele virá.
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