segunda-feira, 7 de novembro de 2022

QUEM SÃO NOSSOS HERÓIS

"Mostre-me um herói e eu lhe mostrarei uma tragédia" (Scott Fritzgerald).

No entanto, os cinemas ficam repletos nas exibições hollywoodianas dos heróis americanos. Pobre país. As tragédias americanas são muitas, por isso precisam tanto de heróis, um para cada uma de suas tragédias? A civilização ocidental alicerçou as características humanas em uma base de egoísmo, desconfiança e agressividade, como se elas fossem inatas nos seres humanos. Não são, mas eles não sabem. Prefiro pensar na dupla “paz e amor” como base da construção de nossa felicidade e viver um dia depois do outro.

Pessoas idosas também não ficam imunes às sagas dos heróis. Eu mesmo não perdi os filmes de Batman e Homem Aranha. Por duas razões. Batman é um herói que não tem superpoderes, um dos poucos. Usa sua força e habilidade física e inteligência além dos artefatos oriundos da Ciência e Tecnologia. Como físico, que sou, e professor de engenheiros, que fui, fiquei fascinado pela ideia de um paladino da justiça que inventa e usa dos artefatos tecnológicos. Já o Homem Aranha foi o primeiro dos super-heróis de revistas em quadrinhos a se mostrarem humanos com problemas emocionais como qualquer um. Criado pela tia, sentindo-se responsável pela morte do tio, com problemas de trabalho e dificuldades de relacionamento com a namorada, parece muito com jovens como eu, na época em que o conheci. Depois dele, a grande indústria cinematográfica percebeu que heróis com vidas parecidas com a nossa criam empatia imediata. E veio uma enxurrada de super-heróis complicados nas revistas e nas telas com enorme sucesso de público. Todos seguindo a velha cartilha da jornada do herói, retratada por Joseph Campbell em seu livro “O Herói de Mil Faces”, publicado em 1949.

No entanto, não podemos deixar de raciocinar em torno da frase de Scott Fritzgerald que me deu o caminho para responder à questão do título. E que respondo sob minha perspectiva, ou seja, a de uma pessoa antiga, ou “pessoa idosa” (conforme definição oficial).

Se não houvessem tragédias, não haveria necessidade de heróis. Eles surgem sempre para resolver problemas, para nos guiar nos momentos de fortes emoções, de comoção pública. Eles sempre surgem. Muitos dos heróis são improváveis, nunca se espera que exatamente aquele surja no momento oportuno. Outros são esperados, como mães e pais, bombeiros e policiais. Atualmente coloco policiais com certas ressalvas, temos visto muitos deles provocarem as tragédias nos aglomerados, favelas e logradouros pobres. Uma questão que se resolveria com políticas públicas de alcance social, sem intervenção nem de policiais, nem de heróis.

Nós, as pessoas antigas (idosas) também precisamos de heróis. Nossa presença na sociedade também é marcada por inúmeras tragédias: de abandono, de doenças evitáveis, de melancolias e nostalgias, de saudades enormes, de intolerâncias, de etarismos diversos. Devemos ainda acrescentar outras tragédias comuns também entre jovens e que se amplificam em relação às pessoas idosas. São elas as consequentes do racismo, da lgbtfobia, entre outras. Precisamos, sim, de heróis. Que eles venham com carinho, atenção, cuidado. E de máscara, somos mais vulneráveis a doenças.

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