"Mostre-me um herói e eu lhe mostrarei uma tragédia" (Scott Fritzgerald).
No entanto, os cinemas ficam
repletos nas exibições hollywoodianas dos heróis americanos. Pobre país. As tragédias
americanas são muitas, por isso precisam tanto de heróis, um para cada uma de
suas tragédias? A civilização ocidental alicerçou as características humanas em
uma base de egoísmo, desconfiança e agressividade, como se elas fossem inatas
nos seres humanos. Não são, mas eles não sabem. Prefiro pensar na dupla “paz e
amor” como base da construção de nossa felicidade e viver um dia depois do
outro.
Pessoas idosas também não ficam
imunes às sagas dos heróis. Eu mesmo não perdi os filmes de Batman e Homem
Aranha. Por duas razões. Batman é um herói que não tem superpoderes, um dos
poucos. Usa sua força e habilidade física e inteligência além dos artefatos
oriundos da Ciência e Tecnologia. Como físico, que sou, e professor de
engenheiros, que fui, fiquei fascinado pela ideia de um paladino da justiça que
inventa e usa dos artefatos tecnológicos. Já o Homem Aranha foi o primeiro dos
super-heróis de revistas em quadrinhos a se mostrarem humanos com problemas
emocionais como qualquer um. Criado pela tia, sentindo-se responsável pela
morte do tio, com problemas de trabalho e dificuldades de relacionamento com a
namorada, parece muito com jovens como eu, na época em que o conheci. Depois
dele, a grande indústria cinematográfica percebeu que heróis com vidas parecidas
com a nossa criam empatia imediata. E veio uma enxurrada de super-heróis
complicados nas revistas e nas telas com enorme sucesso de público. Todos
seguindo a velha cartilha da jornada do herói, retratada por Joseph Campbell em
seu livro “O Herói de Mil Faces”, publicado em 1949.
No entanto, não podemos deixar de
raciocinar em torno da frase de Scott Fritzgerald que me deu o caminho para
responder à questão do título. E que respondo sob minha perspectiva, ou
seja, a de uma pessoa antiga, ou “pessoa idosa” (conforme definição oficial).
Se não houvessem tragédias, não
haveria necessidade de heróis. Eles surgem sempre para resolver problemas, para
nos guiar nos momentos de fortes emoções, de comoção pública. Eles sempre
surgem. Muitos dos heróis são improváveis, nunca se espera que exatamente
aquele surja no momento oportuno. Outros são esperados, como mães e pais,
bombeiros e policiais. Atualmente coloco policiais com certas ressalvas,
temos visto muitos deles provocarem as tragédias nos aglomerados, favelas e logradouros
pobres. Uma questão que se resolveria com políticas públicas de alcance social,
sem intervenção nem de policiais, nem de heróis.
Nós, as pessoas antigas (idosas)
também precisamos de heróis. Nossa presença na sociedade também é marcada por
inúmeras tragédias: de abandono, de doenças evitáveis, de melancolias e
nostalgias, de saudades enormes, de intolerâncias, de etarismos diversos.
Devemos ainda acrescentar outras tragédias comuns também entre jovens e que se
amplificam em relação às pessoas idosas. São elas as consequentes do racismo,
da lgbtfobia, entre outras. Precisamos, sim, de heróis. Que eles venham com
carinho, atenção, cuidado. E de máscara, somos mais vulneráveis a doenças.
Parabéns pela crônica muito bem-vinda de encontro ao nosso cotidiano.
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