Caiu na rede é peixe? Esse ditado popular vale também para as redes sociais? Parece que sim. As pessoas em geral têm a crença que pessoas idosas não são afeitas às tais redes sociais, o que não é verdade. Há casos e casos. O meu caso é fora da média, porque trabalhei como professor e pesquisador em uma instituição pública federal e estar atento às novidades tecnológicas fazia parte de meu trabalho. Quando a instituição em que eu trabalhava montou o primeiro laboratório de informática para uso dos professores, em mil novecentos e noventa, lá estava eu frequentando-o assiduamente. Escrevendo em Word Perfect, um programa que não mais existe. Devo lembrar que em mil novecentos e setenta em um, meu primeiro ano na UFMG, calouro de Física e cursando a disciplina de Cálculo Numérico, tive que aprender linguagem Fortran para criar softwares. Nunca cheguei a nerd da informática, mas ela foi companheira mais ou menos próxima.
Com relação às redes sociais, passei direto pelo Orkut,
nunca o usei. Quando surgiu o Facebook lá estava eu em suas fileiras. O Google
surgiu como navegador e eu fui usuário desde o nascimento. Meu e-mail nessa
plataforma/navegador é usado, o mesmo, há muitos anos, desde os primórdios. O
Twitter também. Tive mestrandos em Letras que pesquisaram, e defenderam
suas dissertações, as linguagens e aplicações do Twitter. Snapchat não me
seduziu, Instagram sim. E hoje estou no LinkedIn, Medium.com, Recanto das
Letras, YouTube, tenho quatro blogues na Blogger, TikTok ainda não, não acho
graça, e WhatsApp se tornou obrigatório.
Ou seja, sou uma pessoa idosa antenada. Não pensem, no
entanto, que passo horas nas redes sociais. Não passo. Amigos vivem me xingando
porque me mandam mensagem pelo WhatsApp e eu demoro a ler e responder. Ora,
ora, respondo quando quiser. Não ficarei olhando para o telefone a todo momento
para verificar mensagens. Se for urgente, telefone.
Na solidão da pandemia, as redes sociais foram muito
importantes para manter a comunicação com os parentes e amigos e salvar a mente
da doideira na solitária de nossas casas. E aí esteve perigo. Sempre. Muitas pessoas
idosas, já acostumadas com a solidão que faz parte da vida de muitos de nós,
encontraram nas redes sociais uma vazão para se sentir próximo de algo
que fosse própria da vida delas, sem interferência de ninguém. A facilidade do
uso dos aplicativos nos telefones smartphones permitiu a comunicação via Facebook
e WhatsApp, principalmente.
Qual o perigo, então? A vulnerabilidade das pessoas idosas
com relação às crenças nas tecnologias faz delas um alvo fácil para aproveitadores
de várias espécies. Pelo WhatsApp chegam comunicados pedindo dinheiro urgente
de pessoas que usam perfis clonados de parentes delas. Muitas caem na rede.
Pelo Facebook elas assistiram ou leram um discurso fake de políticos
dirigindo-se especialmente a elas, pessoas idosas solitárias, exatamente
falando mal de políticos que não cumprem promessas de campanha. É palavra certa
de pessoas que dominam perfeitamente o marketing digital e sabem exatamente com
quem estão se comunicando. Não demora muito elas são convidadas para grupos de
WhatsApp e se tornam adeptas e se sentem protagonistas de atividades políticas.
Foi assim nas últimas eleições.
É possível reverter este processo? Sim, com muita atenção e
afeto às pessoas idosas. Muita conversa, muito café com pão de queijo (não só
em Minas Gerais) e, principalmente, muita demanda a elas para que se sintam
respeitadas e protagonistas de ações diversas que façam com que se sintam importantes,
enquanto tiverem autonomia de pensamento e locomoção. Não sei se há outro
caminho.
Tenho alertado o pessoal por aqui . Gritos histéricos de sabe-se lá quem acompanhados de vídeos mal feitos parecem ter mais valor que minhas palavras de alerta! Haja cafezinho e cuca!!! Ah, e muita paciência e amor também!
ResponderExcluirPois é, meu caro. O mundo tá ficando meio louco.
ExcluirCrônica expressiva e muito bem escrita, fomos obrigados ao ajuste tecnológico, bom mesmo é quando não existia nada disto. Parabéns Paulo César.
ResponderExcluirObrigado, Maurício.
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