Nada deveria permanecer como está durante muito tempo.
Mudanças ocorrem e são necessárias para nossa sobrevivência. Gosto de mudanças.
Eu não quero estar no mesmo lugar, nem fisicamente, nem emocionalmente. Quero
estar sempre em evolução.
Curiosamente escrevi isso dois anos atrás ao responder a
mesma pergunta do título. Depois disso mudei de endereço, mudei as posições dos
móveis, agora tenho uma pequena horta, mudei a cama de dormir do cão e do gato
de lugar, tenho amigos novos, etc., mas o que mudou de fato em minha vida? Escrevi
e publiquei um livro novo, editei um livro para outra pessoa, faço parte de novos
grupos de redes sociais, escrevo para pessoas antigas no planeta, entre outras
mudanças.
A pergunta que continua é: quanto eu me mudei? Se é para ter
uma resposta pronta, ela deve ser: quase nada. As pequenas mudanças são sutis.
Estou dois anos mais velho, o que significa que estou mais perto de minha
partida deste mundo. Mas, não se iludam, as pessoas não mudam só porque
envelhecem. Aquele sujeito chato que você conheceu trinta anos atrás, pode só
estar trinta anos mais velho. Muito provavelmente continua chato. Talvez até
mais que antes. Depende de como ele reage às voltas dos ponteiros do relógio
analógico que ainda usa. Eu também continuo um chato.
Eu gostaria muito de ter mudado durante os anos. No entanto,
o desejo de mudança sempre esbarra no choque de realismo que tomamos na
trajetória. Mudanças requerem energia e dinheiro. Até onde temos reservas
desses dois ingredientes básicos para promover todas as mudanças que
gostaríamos? Poucas pessoas têm. Logo, mudar ou permanecer não se constitui um
dilema tão grande. Muda quem quer e pode, permanece a maioria.
A grande mudança que fiz neste ano foi voltar a residir na
cidade onde cresci entre os quatro e vinte anos. Fui para o mundo estudar,
trabalhar e amadurecer. Continuei visitando a cidade, pois minha família ainda
morava no mesmo lugar. Vi pouco os antigos amigos até perder o
contato com a maioria deles. Ao retornar à cidade quarenta e oito anos depois,
encontrei alguns conhecidos e antigos amigos. Todas pessoas antigas, como eu. Alguns
de meus novos vizinhos continuam residindo no mesmo endereço, tantos anos
depois. Uma delas me afirmou que reside na mesma casa há sessenta e três anos.
Não se casou, não teve filhos, apenas ficou. No mesmo endereço. Não consigo
pensar como é possível não ter a sensação de viver em outro lugar, pelo menos
por uns tempos. Que mudanças na vida essa pessoa poderia ter feito? E quais
mudanças ela viveu de fato? Ou será que é assim mesmo e as pessoas não foram
feitas para mudar? Ela não me parece infeliz.
Mudar ou permanecer como está? Não faço a menor ideia de qual seria a resposta. Mudar e permanecer podem não ser verbos antagônicos. Talvez mudar um pouco para não correr o risco da impermanência final. O importante é permanecer vivo, cada qual a seu jeito.
Ótima reflexão!
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