Entre
os quinze e os dezoito anos eu não tinha a menor ideia do que era namorar. Para
mim significava encontrar uma garota, dar uns amassos, trocar uns beijos, se
fosse bom marcar um reencontro que poderia acontecer ou não. Ter uma namorada
era ter alguém que nos desse a permissão para isso. O que não significava que
eu não arrumaria outra no dia seguinte, na esquina seguinte. O que não
significava que eu assumiria um compromisso de longa data. Minha mãe me
ensinava, e insistia, que eu devia respeitar as meninas. E era só o que ela
falava. Se ninguém, nem ela nem meu pai, nunca me falaram nada sobre sexo, como
eu iria saber? Morávamos em um local isolado, eu era o jovem mais velho do
pedaço, como iria aprender sobre sexo? O medo de minha era
apenas para eu não transar com moças de família, mesmo se elas quisessem
transar comigo. Mas o que era transar? Ô praga, viu? Aprendi que praga de mãe
pega. Pega? Não, prega. Como carrapicho. E por causa disso, e também porque eu
não tinha dinheiro para sair com as namoradas para lugares apropriados à prática do
amor livre em moda na época, ganhei uns chifres. E morria de raiva por ser tão
ingênuo.
Por
isso eu gostava de viajar. Em viagens para a casa dos parentes eu tinha algumas
chances. Como iria embora depois o descompromisso era confortável. Uma dessas
viagens era ir para a casa da tia e madrinha em João Monlevade. Eu tinha o
carinho e bajulação da tia e das primas e um brinde fenomenal. Meu tio tinha um mercadinho na garagem de sua
casa e uma funcionária bonita e simpática. Nos fundos da garagem havia um
depósito de mercadorias onde guardava sacas de arroz, feijão, milho e outras
maravilhosas iguarias. Maravilhosas porque eram camas perfeitas. Findo o
expediente do dia, cerrada a porta do armazém, era o momento da hora extra.
Ninguém da casa nunca nos pegou nesse conluio amoroso, se pegou fingiu que não
viu. O problema era a justeza das férias. Rapidamente chegava a hora de voltar
para casa. E nas férias seguintes o armazém havia fechado definitivamente suas
portas, não sei se prejuízo nos negócios ou outro motivo qualquer.
Outra
viagem interessante era ir para a praia em Nova Almeida, casa de praia de um
tio. Quase sempre casa cheia, eu dormia em uma rede na varanda. Isso dava uma
grande liberdade de entrar e sair desde que, quando os adultos levantassem para
o café da manhã seus carros estivessem limpos da poeira do lugar e da neblina
da madrugada. O que eu fazia com prazer porque tinha uns trocados para meu
gasto e comida de primeira, porque a mesa do anfitrião, um tio, era sempre
farta. E, à noite, eu tinha companhia na praia. Uma namorada praiana, nem sei
que idade ela tinha, sei que trabalhava como professora, sempre me acompanhava.
Assim descobri o prazer de transar ao relento, com a brisa do mar e o sussurro
das ondas. Areia às vezes incomodava, mas... A praga de mãe continuava
pregando.
Minha
mãe afastava as moças que me procuravam em casa, insistia para que eu não
enrolasse (enrolar = transar) com moças de família, as mulheres da zona eram
transmissoras de doenças contagiosas, o que me sobrava? A vulnerabilidade a um
preconceito recorrente: nem moças de família, nem mulheres da zona. As
maravilhosas (hoje eu sei) moças libertárias, de pensamentos desamarrados a uma
moral vigente e que, por isso mesmo, me enchiam de medo para manter um
relacionamento estável, mas de quem eu não abria mão de encontros nas horas
mais altas da noite para a prática de meu treinamento amoroso-sexual. Hoje eu
me envergonho da não retribuição do mesmo carinho, da mesma disponibilidade, do
fazer escondido como se elas não tivessem dignidade. Hoje eu reconheço que
foram essas maravilhosas mulheres que muito me ensinaram na vida e tinham, na
época, essa esdrúxula classificação: nem “moças de família” nem “mulheres da
zona”. E esse meu envergonhamento só vem a público porque esse relato ficará
contido nessa autobiografia desautorizada, uma vez que expõe dois fatos nada
simpáticos: a influência negativa da mãe em meu aprendizado amoroso-sexual
(junto à ausência do pai nesses momentos) e a construção de um preconceito na
minha jovem cabeça. O velho problema de gênero na formação dos jovens!
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