Humberto Mauro,
Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos, Paulo César Sarraceni, Guimarães
Rosa, Oswald de Andrade, Carlos Drumond de Andrade, Thiago de Melo, Manoel de
Barros, Torquato Neto, Wali Salomão, Pixinguinha, Villa-Lobos, Ernesto Nazaré,
Chiquinha Gonzaga, Zé Coco do Riachão, Cândido Portinari, Yara
Tupinambá, Lígia Clark, Hélio Oiticica, Rodolfo Caniato, Francisco Prado, Luiz
Carlos Alves, Jaguar, Ziraldo, Henfil, Marília Pera, Yonná Maglhães, Jofre
Soares, Sérgio Ricardo, Othon Bastos, Geraldo Del Rey, Leonardo Vilar, Tom Zé, Gal Costa, Maria Bethânia, Francisco Magalhães, Caetano
Veloso, Chico Buarque, Milton Nascimento, Mário Faustino e
muitos outros cujos nomes se perderam em minha memória, mas com mesma ou maior
importância em minha formação cultural, a vocês eu agradeço e peço perdão,
simultaneamente. Agradeço porque nos anos mil novecentos e sessenta e tantos, alguns de
vocês estavam construindo um país que pudesse ser digno desse nome, outros
foram apenas precursores. Mas a ditadura militar, de mil novecentos e sessenta
e quatro interrompeu bruscamente o processo. Alguns se perderam, outros foram
forçados a mudarem para sobreviverem. O Brasil mudou de rota, a construção
ruiu. Peço perdão porque a minha geração não foi capaz de dar continuidade à
obra em curso.
Peço perdão a
meus filhos e a meus netos, por ter me acovardado, com medo, e não haver me
movimentado o suficiente para fazer voltar o rio a seu curso. O desvio foi
fatal. E o que temos hoje é uma legião de governantes sem caráter, sem moral
para reconstruir uma nação digna. Não são homens, são chupa-cabras,
sanguessugas, vampiros a sugar o sangue de pessoas e de instituições apenas
para alimentar seu egoísmo.
Não dá para
recuperar, não dá para desfazer o passado e continuar como se nada houvesse
acontecido. A nossa elite cultural de hoje também não tem moral nem caráter
para liderar um processo de recuperação do país. A mudança só pode vir de baixo
para cima, só pode vir da periferia. Temos que criar outro país e encontrar
novos rumos. Hoje eu boto fé na cultura
que vem das periferias, dos movimentos negros, dos indígenas (que são os
grandes diferenciadores de nossa cultura com relação à cultura europeia, mesmo à
luso-fônica), dos quilombolas, das culturas afro-brasileiras em geral. Boto fé
nessa moçada que hoje chega às cidades, às universidades (graças a um pouco de
lucidez de alguns governantes de um passado recente) e que mostram sua cara,
sua arte, sua disposição de encontrar um lugar ao sol, com suas diferenças em
relação à cultura estabelecida, branca e racista.
Em
Belo Horizonte, vamos ao Teatro Espanca. É lá que essa nova cultura toma força.
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